Nome original do viés: Observer bias

Tradução: Carolina de Oliveira Cruz Latorraca, Rafael Leite Pacheco, Rachel Riera

Processo de observação e de registro de informações que inclui discrepâncias sistemáticas da verdade.

Introdução

O viés do observador é um tipo de viés de detecção que pode afetar a aferição de desfechos de estudos observacionais e de intervenção. O Dicionário de Epidemiologia de Parta (Parta’s Dictionary of Epidemiology) fornece a seguinte definição: “Diferença sistemática entre o valor real e o valor observado devido à variação do observador” e continua descrevendo as variações de observador.

Muitas obervações sobre cuidados em saúde estão sujeitas a variações sistemáticas. Por exemplo, durante a avaliação de um exame de imagem, um observador pode registrar uma anormalidade, e outro observador pode não tê-la observado. Diferentes observadores podem tender a arredondar para cima ou para baixo as medidas de uma escala. Testes sobre mudanças de cor podem ser interpretados de formas diferentes por observadores diferentes.

Em avaliações que incluem um julgamento subjetivo, existe grande potencial para haver variabilidade entre os observadores, e algumas dessas diferenças podem ser sistemáticas e levar ao viés. A observação de dados objetivos, como morte, tem menos risco de ser afetada pelo viés do observador.

Vieses no registro de dados objetivos podem ser resultado de treinamento inadequado no uso dos instrumentos de aferição ou nas fontes dos dados ou em atividades habituais inadequadas que não são posteriormente confirmadas. Ao se registrar dados subjetivos, as predisposições do observador podem ser a causa do viés do observador.

Observadores podem, de alguma forma, ter consciência de seu próprio viés em um estudo ou podem não ter ideia dos fatores que influenciam suas decisões na hora de registrar as informações em um estudo.

Ensaios clínicos randomizados (ECRs) são desenhados para fornecer a avaliação mais justa de uma intervenção. Porém, se qualquer parte do processo de coleta de dados envolve observação, o viés do observador pode afetar as medidas do estudo.

Exemplos

O viés do observador tem sido repetidamente documentado em estudos sobre pressão arterial sanguínea. Profissionais que aferem a pressão dos participantes com o esfigmomanômetro de mercúrio têm arredondado os resultados, para cima ou para baixo, no sentido do número inteiro mais próximo. O viés do observador pode também ocorrer se o pesquisador tem uma ideia preconcebida de quanto a pressão sanguínea deve ser, levando a ajustes arbitrários das medidas.

Impacto

Hróbjartsson e colaboradores realizaram três revisões sistemáticas estimando a magnitude do impacto do viés do observador, comparando as estimativas de estudos com avaliadores de desfechos mascarados para a intervenção com as estimativas de estudos com avaliadores não mascarados. Três tipos de ECRs foram investigados: ECRs com desfechos binários, ECRs com desfechos medidos por escalas e ECRs com desfechos do tipo tempo para o evento.

Os estudos incluíram uma variedade de condições de saúde, de angina a feridas e transtornos psiquiátricos. Para os ECRs com desfechos binários, avaliadores não mascarados geraram uma razão de chances para as estimativas de tamanho de efeito, em média, 36% maior. Para ECRs com desfechos medidos por escalas, a presença de avaliadores não mascarados aumentou, em média, 68% as razões de chances para as estimativas de tamanho de efeito. Para ECRs com desfechos tempo para o evento, avaliadores não mascarados superestimaram a razão de chances em 27%.

Passos para prevenção

Um bom método é garantir que os avaliadores dos desfechos estejam mascarados para os status de exposição dos participantes dos estudos. Isso pode se aplicar a ECRs, em que um indivíduo é alocado para uma intervenção em particular, e também a estudos observacionais, em que há o acompanhamento do progresso dos participantes do estudo em diferentes exposições.

Realizar o mascaramento pode significar separar o acesso aos dados sobre a exposição dos dados sobre os desfechos; em um estudo mascarado, a alocação dos participantes deve permanecer desconhecida durante todo o estudo (a não ser que isso tenha que ser revelado por razões de segurança).

Outras estratégias também podem incluir: treinamento adequado dos observadores sobre como registrar os achados, identificação de possíveis conflitos antes do início da coleta de dados e definição clara dos métodos, ferramentas e prazos para coleta dos dados.

O treinamento dos observadores do estudo para que se tornem conscientes de seus hábitos e preconcepções para melhorar a acurácia também é um passo preventivo

Um estudo sobre pressão arterial sanguínea avaliou os tipos e a duração dos procedimentos de treinamento desenvolvidos para reduzir o viés do observador. Este estudo observou que enfermeiras estavam enviesadas no sentido de reduzir ou aumentar a pressão sanguínea registrada; o treinamento realmente reduziu as variações entre as enfermeiras, mas algumas diferenças permaneceram e não foram afetadas pelo treinamento nos vários tempos de seguimento.

Embora o viés do observador possa ser reduzido, é provável que esse viés sempre permaneça, e os pesquisadores devem estar atentos a isso quando analisarem e avaliarem dos dados de seus estudos.

Link para o original: https://catalogofbias.org/biases/observer-bias/

 

Deve ser citado como: Catalogue of Bias Collaboration. Mahtani K, Spencer EA, Brassey J. Observer bias. In: Catalogue Of Bias 2017:   https://www.catalogofbias.org/biases/observer-bias.

 

Fontes:

Beevers G et al. ABC of hypertension. Blood pressure measurement. Part I-sphygmomanometry: factors common to all techniques. BMJ 2001;322:981–5

Bruce NG et al. Observer bias in blood pressure studies. J Hypertens.1988;6(5):375-80

Hróbjartsson A et al. Observer bias in randomised clinical trials with binary outcomes: systematic review of trials with both blinded and non-blinded outcome assessors. BMJ 2012;344:e1119

Hróbjartsson A et al. Observer bias in randomized clinical trials with measurement scale outcomes: a systematic review of trials with both blinded and nonblinded assessors. CMAJ 2013;185:E201–11

Hróbjartsson A et al. Observer bias in randomized clinical trials with time-to-event outcomes: systematic review of trials with both blinded and non-blinded outcome assessors. Int J Epidemiol 2014;43:937–48

Porta M et al. A dictionary of epidemiology. 6th edition. New York: Oxford University Press: 2014

Stewart MJ et al. Measurement of blood pressure in the technological age. Br Med Bull. 1994 Apr;50(2):420-42

 

PubMed feed

Esta forntes podem ser recuperadsa dinamicamente a partirdo PubMed:

Vijayalaxmi, Prihoda TJ. Comprehensive Review of Quality of Publications and Meta-analysis of Genetic Damage in Mammalian Cells Exposed to Non-Ionizing Radiofrequency Fields.