Nome original do viés: Compliance bias

Tradutor: Carolina Oliveira Cruz Latorraca

Primeiro revisor: Rafael Leite Pacheco

Segundo revisor: Luís Eduardo Fontes

Terceiro revisor: Rachel Riera

Quando os participantes são aderentes a uma intervenção e isso faz com que, de algum modo, eles se diferenciem dos participantes que não aderem. Isso pode afetar de forma sistemática o desfecho de interesse.

Introdução

Em 1979, no seu trabalho sobre Biases in Analytic Research, David Sackett definiu o viés de aderência da seguinte forma: “Em experimentos que requerem que o paciente seja aderente a uma terapia, questões sobre eficácia podem ser confundidas com questões de aderência. Po exemplo, são os pacientes com maior risco de doença coronária que abandonam os programas de exercícios“.

Os participantes, portanto, que são aderentes a uma intervenção podem se diferenciar daqueles que não o são, de modo que isso pode afetar a ocorrência do desfecho que está sendo medido. Isso quer dizer que a aderência é um fator confundidor na avaliação dos efeitos de uma intervenção.

Exemplos

A aderência à medicação pode ser um fator intermediário que influencia os desfechos relevantes, como por exemplo, incidência de fraturas. Pouco se sabe sobre o tamanho desse efeito potencial do “participante saudável aderente”. Um estudo avaliou a hipótese de que a aderência ao placebo (definida como uso de 80% ou mais do medicamento oferecido durante todo o estudo) esteja inversamente associada à perda óssea e fraturas entre as mulheres participantes do estudo Fracture Intervention Trial (FIT).

Entre as 3.169 mulheres randomizadas para o grupo placebo, 82% tiveram alta aderência. Neste grupo, a perda óssea (p = 0,04) e o risco de fartura de quadril (hazard ratio ajustado = 0,67, IC 95% 0,30 a 1,45) foram menores entre as mulheres aderentes quando comparadas com as não-aderentes.

 

Impacto

Pesquisas têm mostrado que a aderência ao tratamento prescrito reduz desfechos adversos (van Boven 2014, Higgins 2009).

Portanto, é importante ter conhecimento e considerar a aderência ao se investigar os efeitos das intervenções. Em 1980, o Coronary Drug Project Research Group explorou a influência da adesão na mortalidade com o tratamento de longo prazo da doença coronária.

A mortalidade em cinco anos dos participantes aderentes ao clofibrato (uso de 80% ou mais do total prescrito) foi substancialmente menor do que entre os participantes pouco aderentes (15% versus 24,6%). No grupo placebo, a mortalidade foi de 15,1% entre os aderentes versus 28,3% dentre os não-aderentes.

Passos para prevenção

Ensaios clínicos deveriam tentar coletar dados sobre a aderência e as análises deveriam incluir a análise por intenção de tratar. Quando possível, análises secundárias exploratórias investigando o impacto da falta de aderência poderiam ajudar a identificar os níveis de aderência que afetam o desfecho de interesse.

Link para o original: https://catalogofbias.org/biases/compliance-bias/

 

Deve ser citado como: Catalogue of Biases Collaboration, Spencer EA, Heneghan C. Compliance bias. In: Catalogue Of Biases 2018: www.catalogueofbiases.org/biases/compliancebias

 

Fontes

Coronary Drug Project Research Group. Influence of adherence to treatment and response of cholesterol on mortality in the coronary drug project. N Engl J Med. 1980 Oct 30;303(18):1038-41.

Curtis JR, Delzell E, Chen L, Black D, Ensrud K, Judd S, Safford MM, Schwartz AV, Bauer DC. The relationship between bisphosphonate adherence and fracture: is it the behavior or the medication? Results from the placebo arm of the fracture intervention trial. J Bone Miner Res. 2011 Apr;26(4):683-8. doi: 10.1002/jbmr.274

Higgins PD, Rubin DT, Kaulback K, Schoenfield PS, Kane SV. Systematic review: impact of non-adherence to 5-aminosalicylic acid products on the frequency and cost of ulcerative colitis flares. Aliment Pharmacol Ther. 2009 Feb 1;29(3):247-57

van Boven JF, Chavannes NH, van der Molen T, Rutten-van Mölken MP, Postma MJ, Vegter S. Clinical and economic impact of non-adherence in COPD: a systematic review.

Respir Med. 2014 Jan;108(1):103-13

 

Pubmed feed

As fontes podem ser recuperadas dinamicamente a partir do PubMed:

Petitti DB. Coronary heart disease and estrogen replacement therapy. Can compliance bias explain the results of observational studies?

Oldridge NB. Compliance bias as a factor in longitudinal exercise research. Osteoporosis.

Seigel DG, Podgor MJ. Compliance, bias, and power in clinical trials.