Tradutor: Ana Paula Pires dos Santos, Luis Eduardo Fontes


 

3 de abril de 2020

Jason Oke, Nick DeVito, Carl Heneghan.

Nós estamos monitorando os dados do ONS (“Office for National Statistics” – Gabinete de Estatísticas Nacionais) sobre mortes, que são atualizados toda terça-feira.

Como podemos saber se a COVID-19 é a principal causa dessas mortes?  Ou se elas teriam ocorrido na ausência da COVID-19, particularmente em idosos e pessoas com problemas crônicos de saúde? (veja o  artigo de David Spiegelhalter para uma explicação).

Uma maneira é examinar as taxas de mortalidade e determinar se há mais pessoas morrendo do que se esperaria. O que queremos saber é se as mortes relatadas pela COVID representam um “excesso” em relação à norma.

 

O número semanal de mortes registradas para todas as idades.

Atualização em 28 de abril: a divulgação de hoje refere-se à semana que terminou no dia 17 de abril (semana 16)

  • Total de mortes em todas as idades 22.351 mortes.
  • Este é um excesso de 12.034 mortes: mais do que o dobro do esperado nesta época do ano, RR 2,14 (IC 95% 2,10 a 2,20; p<0,0001).

 

Gráficos interativos disponíveis aqui

Diferença entre o total de mortes e as mortes esperadas ao longo de uma média de 5 anos.

 

O número de mortes excedeu 3 DPs (desvios-padrão) em cinco ocasiões distintas nos últimos três anos. No período entre o inverno de 2017 e o de 2018, houve 50.100 mortes em excesso na Inglaterra e no País de Gales. O maior número de mortes já registrado (do qual temos conhecimento) por semana ocorreu na semana 52 de 1999, quando foram registradas 18.500 mortes naquela semana.

Excesso de mortes nas últimas 6 semanas

O excesso no número de mortes foi devido à COVID?

  • Na semana 16, das 12.034 mortes em excesso, 8.758 (73%) mencionaram COVID no atestado de óbito, 3.276 (27%) não o fizeram.
  • 29% (n =7916) de todas as mortes em excesso nas últimas 6 semanas não mencionaram COVID no atestado de óbito.

Há duas explicações possíveis para que a COVID não seja mencionada no atestado de óbito:

  1. Subnotificação da COVID no atestado de óbito
  2. As mortes por outras causas estão aumentando

O pico de mortes é consistente com o pico de mortes do NHS na Inglaterra (8 de abril). Isto poderia ser revisto para cima, mas os dados são consistentes com os dados do NHS da Inglaterra sobre mortes (ver COVID-19 Dados de Mortes na Inglaterra – Atualização em 21 de abril)

As duas fontes mais confiáveis são as mortes no ONS por data real da morte – e o NHS Inglaterra por data da morte

Idade das mortes 

  • 72,8% de todas as mortes ocorreram em >75 anos

  • 71 % das mortes por COVID ocorreram em >75 anos

Gráficos interativos de mortalidade por idade por 100.000 pessoas

 

é importante observar as taxas de mortalidade por idade da população sob risco (há menos pessoas de 85 anos do que aqueles na faixa etária de 45 a 64 anos). O que isto mostra é o risco muito maior nos idosos em comparação com as faixas etárias mais jovens.

Mortalidade por idade por 100.000 pessoas

  • >85: 236/100.000
  • 75-84: 82 por 100.000
  • 65-74: 24 por 100.000
  • 45-64: 6,4 por 100.000
  • 15-44: 0,45 por 100.000
  • 1-14: 0,02 por 100.000

 

O relatório do ONS não nos diz se a COVID foi mencionada como a doença ou condição que levou diretamente à morte.

  • A causa imediata da morte – (primeira linha do atestado de óbito na Parte I)
  • As causas subjacentes da morte – consideram a cadeia de eventos que levam à morte (linhas mais inferiores na Parte I)

Todas as mortes por doenças respiratórias (CID-10 J00-J99) incluem mortes por pneumonia viral (codificada como J12).

  • Semana 14: 2.106 um aumento de 572 (27%) mortes respiratórias em comparação com a semana anterior.
  • Semana 15: 1.810 uma diminuição de 298 (14%) em comparação com a última semana.
  • Semana 16: 1776 uma diminuição de 34 (1,9%) em comparação com a última semana.

Esperaríamos que a pneumonia estivesse em ascensão se o SARS-CoV-2 causasse predominantemente pneumonia viral. Um atestado de óbito conteria tanto COVID quanto pneumonia viral, se este fosse o caso. Isto sugere que a causa predominante de morte por COVID não é respiratória. Uma análise mais profunda dos dados do ONS pode revelar as outras causas, mas isto ainda não está disponível.

 

Gráficos interativos disponíveis aqui

 

Local de morte

 

As mortes em asilos (n=7.316) e em casa (4.570) somadas foram maiores que o número de mortes no hospital (n=9.434).

Houve uma proporção maior de mortes não relacionadas à COVID em casa (91%) e em asilos (72%) do que de mortes não relacionadas à COVID (médias da semana 13 fornecidas para comparação).

Mortes por região

 

 

Veja também


 

AUTORES
Jason Oke is é um estatístico senior no Nuffield Department of Primary Care Health Sciences. (Biografia)

NickDeVito é um Doutorando no EBM DataLab (Biografia)

Carl Heneghan é professor de Medicina Baseada em Evidência, diretor do Centro de Medicina Baseada em Evidência. (Biografia completa e declaração de conflitos de interesse aqui).

Aviso: o artigo não foi revisado por pares; ele não deve substituir o julgamento clínico individual e as fontes citadas devem ser verificadas. As opiniões expressas neste comentário representam as opiniões dos autores e não necessariamente as da instituição anfitriã, do NHS, do NIHR, ou do Departamento de Saúde e Assistência Social. Os pontos de vista não são um substituto para o aconselhamento médico profissional.