Tradutores: Clara Nogueira, Luis Eduardo Fontes
Os corticosteroides inalatórios para tratamento de asma são adequados para uso ou deveriam ser interrompidos?
Parecer: Não há evidência de relação entre o uso de corticosteroides inalatórios e a infecção por COVID-19 no momento. Corticosteroides inalatórios são geralmente considerados seguros e tratamento de primeira linha para o controle dos sintomas da asma. Evidências de uma revisão sistemática em 2013 de sete ensaios clínicos controlados randomizados revelaram que a interrupção do uso de corticosteroides inalatórios em pessoas com asma controlada mais do que dobrou o risco de exacerbação da asma (RR 2,35, IC 95% 1,88 a 2,92, acompanhamento médio de 27 semanas). Corticosteroides inalatórios, quando administrados conforme foram prescritos, reduziriam o risco de crise de asma desencadeada por um vírus respiratório, como a COVID-19. Há incerteza sobre se a prescrição de doses mais altas aumentariam os riscos de desenvolver pneumonia.
Há evidências de que corticosteroides inalatórios aumentariam os riscos do desenvolvimento de (algumas) infecções respiratórias em pessoas com asma.
Uma revisão sistemática em 2019 de 17 ensaios clínicos controlados randomizados em pessoas com asma ( n = 15.336) evidenciou que o tratamento com corticosteroides inalatórios (ICS) estava associado a um risco significativamente maior de infecções do trato respiratório superior (Razão de chances OR 1,24, 95% CI 1,08 a 1,42). Houve mínima heterogeneidade estatística apesar dos estudos terem incluído variadas doses e tratamentos e utilizado uma variedade de definições acerca de infecções do trato respiratório superior. Quando análises de subgrupos foram realizadas para altas e baixas doses de ICS, ambas foram associadas a aumento estatisticamente significativo de infecções do trato respiratório superior. As análises de subgrupos por tipo de tratamento foram limitadas por imprecisão. Estudos observacionais sugerem possível presença de relação dose dependente para risco de pneumonia. Entretanto, nesses estudos, é difícil afastar fatores de confusão, pois sintomas mais graves de asma podem levar à prescrição de doses mais elevadas e, portanto, podem aumentar independentemente os riscos de infecções respiratórias. O risco aumentado de infecção em pessoas que usam ICS é consistente com as evidências de ensaios clínicos nos quais corticoides inalatórios foram utilizados para tratar outras condições.
Há evidências menos claras de que o uso de corticosteroides inalatórios pode oferecer proteção contra algumas infecções respiratórias
Um estudo de laboratório revelou que Formoterol e Budesonida podem inibir a infecção pelo Rinovírus. Outro estudo laboratorial recente descobriu que o Brometo de Glicopirrônio, Formoterol e uma combinação de Brometo de Glicopirrônio, Formoterol e Budesonida inibem a replicação de um tipo de coronavírus (HCoV-229E).
Limitações:
As evidências provenientes de ensaios clínicos controlados randomizados são comparativamente pequenas e as estimativas combinadas têm intervalos de confiança amplos. Pode ser que os corticoides inalatórios tenham efeitos distintos em diferentes tipos de infecções respiratórias. Ainda não temos quaisquer dados sobre corticosteroides inalatórios relacionados à COVID-19. Como a asma está em si associada a um risco aumentado de infecções respiratórias graves, estudos observacionais analisando associações entre corticoides inalatórios para asma e infecções respiratórias podem estar sujeitos à viéses de confusão.
Retratação: Este artigo não foi revisado por pares; não deve substituir o julgamento clínico individual e as fontes citadas devem ser verificadas. As opiniões expressas neste comentário representam as opiniões dos autores e não necessariamente as da instituição anfitriã, do NHS, do NIHR, ou do Departamento de Saúde e Assistência Social. Os pontos de vista não são um substituto para o aconselhemento médico profissional.