Tradutores: Elizangela Braga Andrade, Rachel Riera
PARECER
Em conjunto às orientações gerais em COVID-19 para reduzir o risco, pessoas com diabetes têm sido aconselhadas a manter um controle rigoroso da glicose, embora as evidências que apoiem esta recomendação não tenham sido identificadas. Cuidados rotineiros do diabetes serão interrompidos significativamente durante a pandemia. Níveis de estresse, interrupção da dieta e atividades físicas podem também contribuir para piores desfechos durante e após a pandemia. Intervenções para melhorar o autocontrole ou a autoeducação para diabetes podem ser limitadas nas suas generalizações, mas intervenções, tais como, mensagem de textos e automonitoramento da glicose sanguínea são as estratégias mais promissoras.
CONTEXTO
Pessoas com diabetes estão sob risco maior de desenvolverem formas graves de COVID-19. Compreender o risco e as melhores formas para mitigá-lo é a chave para permitir que pacientes, cuidadores e profissionais de saúde façam escolhas informadas sobre as formas de manejo da diabetes durante a pandemia de COVID-19. Uma revisão complementar avalia as evidências acerca dos riscos de COVID-19 em pessoas com diabetes. Esta revisão aborda as seguintes questões:
Como pessoas com diabetes podem reduzir os riscos de COVID-19?
Qual é a evidência em saúde sobre a ansiedade e a angústia relacionadas ao diabetes durante a pandemia de COVID-19?
Como pessoas com diabetes podem controlar melhor sua condição de saúde no cenário da pandemia de COVID-19?
Como os cuidados de rotina de pessoas com diabetes podem ser manejados frente à interrupção no sistema de saúde e outros serviços?
Qual é a evidência no manejo de pessoas diabéticas com COVID-19?
Evidências atuais
Redução do risco de COVID-19 em pessoas com diabetes
Pessoas com diabetes são orientadas para seguirem recomendações gerais sobre redução do risco, incluindo distanciamento social e lavagem das mãos. Há poucas orientações específicas para elas. Esta revisão narrativa (não sistemática) destaca a importância do bom controle glicêmico durante a pandemia de COVID-19, bem como isto pode ajudar na redução do risco e na garvidade da infecção. Os autores recomendam:
Monitoramento mais frequente da glicose sanguínea (em pessoas que realizam a auto monitorização);
Tomar as vacinas contra influenza e pneumonia, que são disponibilizadas;
PD portadoras de doenças renais e cardíacas necessitam de cuidados especiais para estabilizar essas doenças.
Ansiedade e angústia relacionadas ao diabetes durante a pandemia de COVID-19
Além das preocupações gerais relacionadas ao impacto do isolamento social na saúde mental e no bem-estar durante a pandemia de COVID-19, o Diabetes UK observou que diabéticos podem sentir medo ou ansiedade durante este período. Daibéticos são mais propensos para problemas de saúde mental do que a população em geral, incluindo ansiedade e depressão. Não há nenhuma evidência direta sobre o manejo da ansiedade e angústia durante a pandemia. Um artigo para o manejo do diabetes durante crises humanitárias observou a importância de barreiras psicológicas e destacou que mulheres com diabetes apresentam um risco maior de não priorizarem o autocuidado e os cuidados em saúde por serem consideradas as principais cuidadoras durante as crises. A adesão pode piorar quando pessoas estão angustiadas ou depressivas, bem como durante ou após desastres.
Na literatura em geral as evidências sobre intervenções para reduzir angústia no diabetes são variadas. Uma revisão Cochrane com 30 ensaios clínicos randomizados, totalizando 9.177 indivíduos, não encontrou nenhum efeito nas intervenções psicológicas na angústia ou na qualidade de vida relacionadas ao diabetes. Por outro lado, cinco outras revisões encontraram pequenas melhoras, mas a certeza da evidência foi muito limitada devido a problemas com a qualidade e/ou heterogeneidade dos estudos. As revisões incluíram pessoas com diabetes tipo 2; pessoas com diabetes tipo 2 e um fator de risco adicional contribuindo com a vulnerabilidade; diabetes tipo 1 e tipo 2; maioria com diabetes tipo 2; intervenções baseadas em mindfulness).
A vasta maioria das intervenções testadas em todas as revisões envolveu contato pessoal, que é muito difícil de realizar no contexto atual. Intervenções psicológicas online podem ser possíveis, mas uma revisão sistemática com 16 ensaios clínicos randomizados, que utilizaram estas intervenções na melhoria do bem estar de pessoas com diabetes, não encontrou diferenças significativas na depressão ou angústia quando nove estudos foram metanalisados.
Autoeducação/autocontrole do diabetes no contexto da pandemia de COVID-19
Devido à natureza emergente da pandemia, existe pouca informação sobre quais ferramentas de autocontrole ou autoeducacão são efetivas no contexto específico da COVID-19. A Diabetes UK sugere que pessoas com diabetes sigam “suas rotinas” incluindo a observar seus pés diariamente, manter alimentação saudável e fazer exercícios físicos. Eles também alertaram contra a estocagem de medicamentos e suprimentos, e observar que as garantias de bombas de insulinas que expiram em breve serão prorrogadas ou a fabricante irá substituí-las, caso necessário.
Um comentário sobre o controle do diabetes na China durante a COVID-19 observa (mas não faz referência) que vários serviços online foram implementados para pessoas com diabetes com o objetivo de prevenir a transmissão pessoa-pessoa, incluindo vídeos educacionais e e-books sobre o autocontrole do diabetes disponibilizados ao público por meio de um aplicativo móvel chamado WeChat. Os autores afirmam “que estes serviços e recursos online desempenharam um importante papel” mas não fornecem dados ou referências para verificação desta afirmativa. A literatura vasta sobre as condições do cuidado a longo prazo durante a emergência nacional sugerem um papel para materiais educacionais e consultas remotas. Mais detalhes podem ser encontrados em uma revisão rápida separada.
Evidências de recursos para intervenções não intensivas para melhorar o autocontrole e que não necessitam de contato presencial.
As intervenções geralmente são divididas em quatro categorias: mensagem de texto; aplicativo para telefone móvel; baseadas em internet ou informática; automonitoramento da glicose sanguínea.
A evidência sobre intervenções baseadas em mensagem de texto mostrou ser a mais promissora das modalidades revisadas. Elas incluem intervenções automatizadas e aquelas realizadas por profissionais de saúde. Uma revisão sistemática de 13 ensaios clínicos randomizados totalizando 1.164 indivíduos portadores de diabetes tipo 1 ou tipo 2 revelou uma redução significativa nos níveis de hemoglobina glicada (HbA1c) naqueles alocados no grupo intervenção baseada em mensagem de texto para melhor controle da glicemia comparado ao grupo controle (diferença de médias [DM]: -0,62%, IC95%: -0,82 a -0,41). A análise de subgrupo encontrou redução significativa de HbA1c para ambos os tipos de diabetes.
Uma segunda revisão sistemática de intervenções de mensagem de texto personalizadas para melhorar o autogerenciamento em pacientes com diabetes tipo 2 encontrou um “efeito relevante e significativo” na HbA1c (diferença de média ponderada: 0,54, IC95%:0,08 a 0,99, 11 estudos, 849 participantes). Em contrapartida, uma revisão Cochrane que avaliou as mensagens para telefones móveis com o intuito de facilitar o autogerenciamento em doenças de longa duração encontrou evidência de moderada qualidade em dois estudos, nos quais não houve diferença entre as intervenções de mensagens de texto comparadas aos cuidados habituais ou aos lembretes por correio eletrônico relacionados a HbA1c ou complicações do diabetes. No entanto, encontrou evidência de moderada qualidade mostrando melhora da capacidade do autogestão do diabetes com mensagens de texto ((pontuação auto-eficácia para o diabetes DM: 6,10, IC95%: 0,45 a 11,75; pontuação na entrevista de apoio social ao dabetes DM: 4,39, IC95%: 2,85 a 5,92).
A evidência sobre intervenções por smartphones é limitada e mista. Em 2019 uma revisão sistemática com metanálise acerca da efetividade de intervenções por meio de smartphone para o autogerenciamento do diabetes tipo 2 encontrou 22 ECR’s envolvendo um total de 2.645 indivíduos. As intervenções incluíram educação, lembretes, monitorização e/ou resposta e foram comparadas a cuidados habituais ou nenhuma intervenção por smartphone. Quando os resultados foram reunidos, a intervenção resultou numa melhoria significativa da auto-eficácia (mas com altos níveis de heterogeneidade estatística), das atividades de autogerenciamento, da qualidade de vida relacionada à saúde e dos níveis de HbA1c. Outras revisões têm sido menos promissoras. Uma revisão sistemática para avaliar a utilidade e efetividade de telefones móveis e aplicativos de saúde para auxiliar o autogerenciamento em pessoas jovens com doenças crônicas encontrou dois estudos sobre Diabetes mellitus do tipo 1 (DMT1), mas nenhum deles demonstrou algum efeito. Uma revisão sistemática sobre aplicativos gratuitos na Espanha para o autogerenciamento do diabetes (2019; não avaliou a efetividade) encontrou que muitos aplicativos não tinham certificação de qualidade e muito poucos forneciam referências científicas. Os que alcançaram maiores pontuações foram principalmente aqueles ligados a tecnologias, sendo, OneTouch Reveal™, Social Diabetes™, mySugr: App Diario de diabetes™, Diabetes menú™, Tactio SALUD™ and Diabetes:M™.”
Evidencia sobre intervenções baseadas na web e em computadores para melhorar o autogerenciamento do diabetes também são limitadas e mistas.
Uma revisão Cochrane que avaliou o efeito de intervenções no autogerenciamento do diabetes tipo 2 encontrou 16 ECR envolvendo 3.578 participantes. Não houve evidência de benefícios para melhorar a depressão ou a qualidade de vida em saúde, mas pequeno benefício foi observado nos níveis de HbA1c (DM: – 0,2%, IC 95%: ‐0,4 a ‐ 0,1; 11 estudos com 2.637 indivíduos) os quais são improváveis de serem significativos clinicamente. Uma revisão sistemática sobre a efetividade de aplicativos para celular para melhorar o controle glicêmico em diabetes tipo 1 encontrou efeitos variados, e 3 dos 9 estudos sobre aplicativos mostraram melhora significativa no monitoramento de Hb1Ac e glicose, e concluiu que o desenvolvimento e avaliação de aplicativos mais abrangentes para uso destes em diabetes são justificados.
As evidências para o aumento da frequência de monitorização da glicose no diabetes tipo 2 geralmente mostram efeitos no curto prazo (até 6 meses), embora aos 12 meses este efeito seja menos provável. Os efeitos no curto prazo são, provavelmente, mais relevantes no contexto atual da pandemia.
Uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados para avaliar o impacto da frequência do monitoramento da glicose em pessoas com diabetes tipo 2 observou que o automonitoramento da glicose sanguínea de 8 a 14 vezes por semana foi associado a um melhor controle da HbA1c em 6 meses (DM: -0,46%, IC 95%: -0,54 a -0,39; 3 estudos, 806 participantes) e 12 meses com níveis moderados de heterogeneidade estatística inexplicada (I2 = 67%). Em uma revisão Cochrane de em pessoas com diabetes tipo 2 que não usavam insulina, o automonitoramento da glicemia comparado aos cuidados habituais e/ou monitoramento da glicose urinária (12 TCR, com 3.259 indivíduos), se associou a pequena melhora na HbA1c em até 6 meses de seguimento (DM: -0,3%; IC9%: -0,4 a – 0,1; 2.324 participantes); mas o efeito foi menos provável aos 12 meses. Uma revisão sistemática de 2019 das intervenções baseadas em tecnologias intervenções baseadas em tecnologia para crianças e jovens com diabetes relatou de forma narrativa que “os resultados mais positivos foram associados a intervenções de saúde baseadas em tecnologias que visam o automonitoramento da glicemia”.
Além da questão adicional com a qualidade dos estudos e heterogeneidade inexplicada, a evidência para intervenções do automonitoramento realizadas de forma remota é limitada em 3 aspectos principais. O primeiro aspecto é a generalização para o contexto atual da pandemia; algumas das intervenções remotas testadas podem não estar amplamente disponíveis, ou podem exigir a criação de recursos de saúde que podem ser limitados no momento. Em segundo lugar, as intervenções que apoiam o aumento da frequência da monitorização da glicemia requerem que a pessoa com diabetes tenha acesso à tecnologia de monitorização (e capacitação para a sua utilização) que não está amplamente disponível para muitas pessoas com diabetes tipo 2 (por exemplo, como parte dos cuidados de rotina no Reino Unido). A terceira questão é que, embora a maior parte das revisões informe dados sobre a modalidade de intervenção, o conteúdo (por exemplo, as técnicas de mudança de comportamento utilizadas) não é discutido detalhadamente. Pode ser que o conteúdo das intervenções e não a sua modalidade tenha um impacto maior na efetividade, mas sem dados comparativos não podemos tirar conclusões sobre qual conteúdo seria mais promissor.
Finalmente, vale ressaltar que a dieta e a atividade física são os pilares do autogerenciamento do diabetes. A interrupção do fornecimento de alimentos é uma ameaça ao controle do diabetes durante emergências nacionais. Um artigo resumindo os desafios e recomendações para a gestão da diabetes durante crises humanitárias, com foco na crise síria como estudo de caso, destacou a qualidade da dieta e a dependência de alimentos ricos em carboidratos como questões-chave para o controle do diabetes durante crises, e também observou que a atividade física era reduzida. No contexto da pandemia atual, onde as interrupções no fornecimento de alimentos são um problema em muitos países devido a questões de armazenamento e transporte, há raras discussões na literatura sobre este potencial desafio à gestão do diabetes.
Uma revisão narrativa (não sistemática) sobre orientações clínicas para diabéticos durante a pandemia de COVID-19 observou que “A atenção à nutrição e à ingestão adequada de proteína é importante. Quaisquer deficiências de minerais e vitaminas precisam ser cuidadas”, e também observou que “Exercícios demonstraram melhorar a imunidade, embora possa ser prudente evitar lugares lotados como ginásios ou piscinas”. Um artigo de reportagem recente observou problemas no fornecimento de alimentos para diabéticos no Reino Unido, incluindo alimentos específicos para manter baixos níveis de açucares sanguíneos e descreveu casos onde diabéticos estão lutando para obter os alimentos de que necessitam ou estão limitadas na quantidade que podem comprar, resultando em altos níveis de ansiedade.
Cuidados habituais com o diabetes no contexto da atual pandemia
Emergências nacionais, incluindo pandemias, podem interromper os cuidados de doenças crônicas. Estratégias gerais para mitigar o efeito dos riscos e danos relacionados a essa interrupção são abordadas em uma revisão separada. Considerações relacionadas especificamente ao gerenciamento do diabetes, são apresentadas aqui. Apesar das recentes diretrizes (resumidas abaixo), um comentário revelou a falta de clareza para diabéticos no momento atual, incluindo incertezas sobre quando é apropriado chamar um paramédico, o que fazer se os serviços de emergência estão sobrecarregados e se as consultas hospitalares estão ocorrendo. O Diabetes UK aconselhou pacientes diabéticos a buscarem assistência médica remotamente sempre que possível, e a falar com profissionais de saúde para considerar se as consultas podem ser adiadas. Foi observado que os check-ups regulares, incluindo exames anuais específicos para diabetes, exames oftalmológicos e exames de rotina dos pés, não estarão disponíveis, mas que o diabético “deve ser capaz de remarca-los quando as coisas voltarem ao normal”.
O Royal College of Physicians, a Association of British Clinical Diabetologists e o NHS – National Health Service (Sistema Público de Saúde do Reino Unido) publicaram um guia clínico para o manejo de pessoas com diabetes durante a pandemia de COVID-19. O guia delineia considerações para “as melhores soluções locais para manter o controle adequado das pessoas com diabetes enquanto os recurso são direcionados para a resposta ao coronavírus”. É observado que atualmente 18% dos leitos hospitalares são ocupados por alguém com diabetes e que como diabéticos são mais propensos a desenvolverem manifestações graves de COVID-19, é provável que percentual de ocupação aumente. Portanto, os serviços de internação de diabetes precisarão continuar e potencialmente aumentar a capacidade. Nos cuidados secundários, é observado que os serviços de pé diabético e de cuidados na gravidez realizados pela equipe multidisciplinar podem precisar continuar em plena capacidade, considerando a mudança de apoio para formas remotas sempre que possível. Para os cuidados primários, a recomendação é considerar os cuidados habituais do diabetes prestados virtualmente e priorizar mais a doenças crônicas, levando em conta fatores de risco individuais e necessidades clínicas.
A NHS London Clinical Networks desenvolveu um algoritmo de priorização de atendimento ambulatorial de pacientes diabéticos durante a pandemia. O algoritmo indica que as consultas presenciais urgentes, devem continuar nas seguintes situações: diagnóstico recentes de diabetes tipo 1; necessidade urgente de início de insulinoterapia em pacientes sintomáticos, ou Hb1Ac > 10% ou presença de cetonas; necessidade de aprender a monitorizar a glicemia por razões urgentes (por exemplo, gravidez); monitoramento urgente do sangue (por exemplo, declínio da função renal, elevação de potássio, diminuição do sódio); ou nos casos onde o exame físico é essencial ( por exemplo, úlcera de pé, infecções, algumas situações na gravidez). Consultas virtuais (telefone, vídeo ou e-mail) são recomendadas para: acompanhamento de novos diagnósticos de diabetes tipo 1; pacientes vulneráveis (internação hospitalar recente, hipoglicemia grave recorrente, HbA1c > 11%); acompanhamento intensivo em situações de alto risco (por exemplo, gravidez); ou onde o risco de atendimento para consulta presencial é maior que os benefícios. Recomenda-se o adiamento das seguintes situações: consultas de rotina de pacientes estabilizados e bem controlados; cursos educacionais presenciais de grupos estruturados; sessões iniciais de monitorização do pico de glicose; onde o risco de comparecer a uma consulta é maior do que os benefícios; e onde o adiamento de consultas não irá comprometer os cuidados clínicos.
Algumas orientações específicas estão disponíveis em relação ao manejo clínico do pé diabético durante a pandemia. A orientação do NHS (sistema de saúde da Inglaterra) sugere que o acesso aos serviços multiprofissionais ambulatoriais e hospitalares para o pé diabético é essencial, que o acesso continue para aqueles com problemas agudos ou graves, e que todos os novos casos sejam revistos, preferencialmente em 24h. Na sequência, descreve uma série de riscos para estes serviços e sugere o seguinte para a mitigação: equipes multiprofissionais para rever a organização dos serviços; para avaliação da capacidade de atendimento da equipe frente à demanda; colaboração com outros prestadores; e possíveis mudanças nos locais das clínicas. Um comentário pré-impresso propôs uma estrutura para um sistema de Triagem do Pé Diabético na pandemia e adverte contra a classificação de procedimentos e cirurgias de úlcera do pé diabético como não essenciais, pois sem os cuidados apropriados isso poderia levar a um aumento nas amputações e mortes.
Como evidenciado nas orientações acima, é provável que o apoio remoto seja utilizado de modo intenso para cuidados do diabetes durante este período. Como descrito em outros lugares, estudos de consultas à distância tem encontrado geralmente resultados positivos, embora sua generalização para a atual pandemia seja limitada. Especificamente para o diabetes, nós encontramos poucas evidências.
Uma revisão sistemática de 2016 sobre intervenções para melhorar a adesão ás terapias visando reduzir o HbA1c no diabetes tipo 1 não encontrou nenhum efeito sobre o HbA1c nos seis estudos de telemedicina (DM: – 1,24%, IC 95% -0,268 a 0,020, total de 494 participantes). No entanto, os grupos de comparação da metade dos ECRs incluídos envolveram cuidados médicos padrão, como consultas presenciais trimestrais com um enfermeiro clínico e/ou endocrinologista. Esse acesso aos cuidados habituais pode ser reduzido no contexto da atual pandemia, limitando a generalização destes resultados.
Contrariamente, um estudo observacional para determinar se o suporte por telefone celular para o gerenciamento durante os dias de doença está relacionado à redução da admissão hospitalar por cetoacidose diabética (CD) em adultos jovens com diabetes tipo 1 (total de 350 indivíduos) revelou que o suporte por telefone celular foi associado à redução da progressão do estado de cetose para cetoacidose em adultos jovens, apesar do controle deficiente da diabetes.
Um artigo resumindo os desafios e recomendações para a controle do diabetes durante crises humanitárias, com foco na crise síria como um estudo de caso, recomenda os seguintes objetivos:
Curto prazo (dias a semanas)
- Priorizar insulinas para pacientes com diabetes tipo 1
- Garantir acesso contínuo aos medicamentos essenciais para diabetes
- Fornecer educação apropriada sobre diabetes para pacientes com foco em hipoglicemia e diretrizes sobre os dias em que estiverem doentes
Longo prazo (semanas a meses)
- Disponibilizar o acesso a cuidados de qualidade para diabetes e medicamentos
- Treinar profissionais de saúde locais e internacionais em cuidados de diabetes
- Desenvolver diretrizes clínicas para o controle do diabetes durante crises
Manejo de PD com COVID-19
O manejo dos medicamentos é uma questão importante para diabéticos quando eles não estão bem. Não está claro se existem considerações específicas relacionadas à COVID-19. Uma revisão narrativa (não sistemática) das considerações clínicas para daubéticos durante a COVID-19 sugerem que: (a) agentes hipoglicemiantes que podem causar diminuição de volume ou hipoglicemia devem ser evitados; (b) doses de hipoglicemiantes orais podem ter necessidade de redução; (c) agentes orais especialmente metformina e inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (SGLT2) precisam ser interrompidos; e (d) a insulina é o agente preferido para controle da hiperglicemia em pacientes hospitalizados. A Diabetes UK também enfatiza a necessidade de descontinuar o SGLT2 quando os pacientes não estiver bem (nomes genéricos incluem dapagliflozina, canagliflozina, empagliflozina; nomes de marca Forxiga, Invokana e Jardiance). Para muitos diabéticos são prescritos inibidores da ECA para prevenir ou controlar complicações do diabetes; tem sido sugerido que estes medicamentos têm o potencial tanto para beneficiar como para causar danos em diabéticos com COVID-19. Uma revisão rápida recente forneceu um algoritmo para pacientes que tomam inibidores da ECA ou do BRA; orientações sobre o uso de inibidores da ECA durante a pandemia de COVID-19 estão sob revisão contínua e podem mudar à medida que mais dados se tornam disponíveis.
O manejo na comunidade tem sido abordado em orientações recentes e, em geral, segue as mesmas regras padronizadas para os diabéticos. Orientações da NHS da Inglaterra incluem regras específicas sobre COVID-19 para DM tipo 1 (orientações separadas para que usa insulina injetável ou em bomba) e tipo 2. Estas incluem instruções para prescrições (recomenda-se o fornecimento de todos os medicamentos suficientes para um mês, além de suprimento de reserva como um meio alternativo de fornecimento de insulinas, em caso de falha da bomba), recomendações para posologia de insulinas e outros medicamentos (incluindo descontinuação de alguns enquanto o paciente não estiver recuperado), instruções sobre como aumentar a frequência de monitorização da glicemia e orientações claras sobre quando ligar para a emergência (telefone 999). O Diabetes UK também oferece orientações para pessoas com diabetes que apresentem sintomas de COVID-19, que incluem:
- Seguir as orientações do prestador de cuidados em saúde.
- Dosar a glicemia com mais frequência para pessoas que realizam este procedimento em casa (a cada 4 horas, incluindo à noite em casos de diabetes tipo 1);
- realizar exames para verificar os níveis de cetonas;
- contactar o profissional de saúde se o a glicemia estiver elevada ou se houver presença de cetonas;
- estar ciente dos sinais de hiperglicemia para aqueles que não checam a glicemia de rotina em casa e entrar em contato com um profissional de saúde se estiverem com sintomas;
- manter-se hidratado;
- tentar comer ou tomar bebidas com carboidratos para obter energia;
- obter assistência médica o mais rápido possível se vomitar ou não for capaz de ingerir líquidos.
Uma revisão narrativa (não sistemática) de orientações clínicas para diabéticos durante a pandemia de COVID-19 recomenda que pessoas com diabetes tipo 1 devem “medir frequentemente a glicemia e cetonas urinárias se ocorrer febre com hiperglicemia”. Ajustes frequentes para correção de dose habitual e uso de doses em bolus podem ser necessários para manter a glicemia normal.”
O guia também está disponível para pacientes hospitalizados. O NHS da Inglaterra publicou orientações específicas sobre o manejo do diabetes nos departamentos de emergência durante a pandemia do coronavírus, incluindo direcionamento às equipes locais especializadas em diabetes e instruções sobre o manejo da hiperglicemia. O guia também contém informações sobre a alta hospitalar de pacientes com diabetes (tipo 1 e tipo 2) após admissão por COVID-19. Um documento compartilhado nas mídias sociais com as informações iniciais de Londres revelou que foi observada cetose atípica no diabetes tipo 2; reposição de líquidos pode ser necessária durante o manejo da cetoacidose devido ao risco de Síndrome da angústia respiratória aguda (SARA); em um subconjunto de uma coorte sob ventilação mecânica foram necessárias altas doses de insulina para controlar a hiperglicemia; e como os pacientes muitas vezes são colocados em posição prona, interrompendo sua alimentação, paradoxalmente também há um risco de hipoglicemia. Um comunicado recentemente publicado sobre o manejo de diabéticos hospitalizados com COVID-19 sugere a necessidade de uma estratégia terapêutica sob medida e um alvo de controle glicêmico com base na classificação clínica, comorbidades coexistentes, idade e outros fatores de risco. Após a alta hospitalar, eles recomendam que a homeostase da glicose no sangue seja mantida continuamente por 4 semanas e alertam que os pacientes precisam evitar doenças infecciosas devido a uma resposta imunológica mais baixa.
CONCLUSÕES
- Há poucas evidencias sobre como os diabéticos podem reduzir o seu risco durante a pandemia de COVID-19, além das orientações gerais para o controle da infecção. O monitoramento mais frequente da glicemia (nas pessoas que se automonitoram) e a vacinação contra influenza e pneumonia tem sido sugeridos, embora não esteja clara qual a evidência utilizada para fazer estas recomendações.
- Não encontramos evidências se ou como a angústia e a ansiedade relacionadas ao diabetes podem estar aumentadas durante a pandemia, nem evidências sobre como lidar com isso.
- Intervenções para melhorar o autogerenciamento ou a autoeducação para o diabetes podem ser limitadas quanto a sua generalização para a pandemia de COVID-19. Intervenções de mensagem de textos e automonitomento da glicemia são as estratégias mais promissoras com base na literatura.
- Cuidados habituais do diabetes serão significativamente impactados durante a pandemia. Estão disponíveis orientações para os cuidados de triagem, que geralmente recomendam que algumas clínicas de atendimento de urgência presencial continuem com os check-ups de rotina e os cuidados com diabeticos que estejam bem controlados sejam adiados, bem como outros serviços prestados por meios remotos, sejam acessados sempre que possível.
- O Manejo de pacientes diabéticos com COVID=19 geralmente segue regras padrão para a doença. Pode haver considerações específicas em torno dos inibidores da ECA, do controlo da glicose em caso de hospitalização e do acesso à assistência médica e de suprimentos.
Declaração: este artigo não foi revisado por pares; ele não deve substituir o julgamento clínico individual e as fontes citadas devem ser checadas. As opiniões expressadas nesse comentário representam as visões dos autores e não necessariamente da instituição que fazem parte, do NHS, do NIHR ou do Departamento de Saúde. As opiniões não substituem da orientação médica profissional.
TERMOS PESQUISADOS
As pesquisas para esta revisão e uma revisão complementar foram feitas por Nia Roberts, bibliotecária, entre os dias 25 e 31 de março, utilizando os seguintes termos:
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“sick day rules” OR “sick daye management” OR “sick day advice” | ||
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REFERENCES
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Deve ser citado como: Jamie Hartmann-Boyce, Elizabeth Morris, Clare Goyder , James Perring, Jade Kinton, David Nunan, Kamlesh Khunti