Tradutor: Daniela Oliveira de Melo, Rachel Riera


 

PARECER

Evidências de como cuidar de pessoas com doenças pulmonares crônicas que fazem uso contínuo de imunossupressores orais durante a pandemia de Covid-19 são muito limitadas. Não há evidências que sugiram que a imunossupressão deva ser interrompida durante a atual pandemia.

CONTEXTO

Pacientes que fazem uso de imunossupressores orais podem estar sujeitos a maior risco de desenvolver infecções bacterianas ou virais graves. Ainda é incerto se as pessoas com problemas respiratórios crônicos em uso prolongado de imunossupressão apresentam maior risco de desenvolver infecção grave ou complicações da COVID-19.

Assim, os pacientes podem estar preocupados em continuar a utilização de seu medicamento diante do risco provável e há uma necessidade de avaliar os riscos associados à interrupção ou continuidade do uso.

Este artigo é especificamente sobre imunossupressão oral a longo prazo em pacientes com doença respiratória. A British Thoracic Society também publicou orientações sobre o uso de curta duração de esteroides na asma e DPOC, que podem ser encontradas aqui. Orientações sobre o uso de corticosteroides inalatórios na asma podem ser encontradas aqui.

EVIDÊNCIA ATUAL

Doença pulmonar crônica é um fator de risco para infecção Covid-19 grave

A relação entre doença pulmonar crônica e infecção Covid-19 grave tem sido amplamente relatada.

Um estudo retrospectivo analisou as características clínicas de 113 pacientes que foram a óbito por COVID-19 e mostrou que de um total de 274 pacientes, 18 tinham uma condição pulmonar crônica subjacente. Destes, 11 morreram e 7 se recuperaram.

Uma revisão sistemática que analisou os sintomas preditivos e comorbidades da infecção COVID-19 grave  destacou que a DPOC é um fator preditivo significante tanto para doença grave quanto para admissão em unidade de tratamento intensivo (UTI). Nossa busca não encontrou nenhuma outra publicação sobre outros tipos de doenças pulmonares crônicas específicas e infecções Covid-19.

Os pacientes em uso contínuo de imunossupressores por longo prazo devem mantê-los durante a pandemia de Covid-19. Se os pacientes apresentarem sinais de infecção, a imunossupressão de uso prolongado deve ser interrompida, exceto os esteroides de uso prolongado.

Um artigo do Hospital Papa Giovanni XXIII em Bergamo, que está localizado na “zona vermelha” do surto italiano e abriga o principal centro de hepatologia pediátrica e transplante hepático da Itália, relata que, pela sua experiência, os pacientes imunossuprimidos não correm maior risco de complicações graves em comparação com a população em geral, tanto crianças como adultos. Eles destacam que ao contrário dos agentes virais comuns (como Adenovirus, Rhinovirus, Norovirus, Influenza, Vírus Respiratório Sincicial), os coronavírus não demonstraram causar uma doença mais grave em pacientes imunossuprimidos. Para esta família de vírus, a resposta imune inata do hospedeiro parece ser o principal causador de danos ao tecido pulmonar durante a infecção.

Apesar de nossa busca não ter encontrado dados epidemiológicos sobre pacientes Covid-19 em uso prolongado de imunossupressão, encontramos vários relatos de casos de pacientes com Covid-19 em uso prolongado de imunossupressão secundário a transplante renal e cardíaco. Todos relataram boa recuperação dos pacientes. O tratamento usual consistiu em baixa dose de prednisolona e manutenção de seus imunossupressores mesmo quando infectados com SARS-CoV-2.

A British Thoracic Society também publicou uma série de diretrizes clínicas sobre várias condições respiratórias. A recomendação geral é que os pacientes já estabelecidos em imunossupressão devem manter seu uso a menos que estejam apresentando sintomas de infecção, que o monitoramento do sangue demonstre problemas ou na presença de efeitos adversos. O risco do controle da doença de base ser interrompido ou reduzido pode variar. Orientações específicas podem ser encontradas para asma, DPOC e doença pulmonar intersticial, incluindo orientações sobre uso de curta duração de esteroides em exacerbações agudas.

Da mesma forma, a British Society of Rheumatology publicou também orientações sobre este assunto. Se os pacientes desenvolverem sintomas de qualquer infecção, a prática estabelecida deve ser seguida e a imunosupressão deve ser interrompida durante o período da infecção e até que os pacientes se sintam melhores, mantendo contato com equipe de reumatologia responsável. Para aqueles em uso de corticoides, a expectativa é de que o tratamento não seja interrompido abruptamente e que seja solicitada orientação pela equipe responsável pelo cuidado.

CONCLUSÕES

Os pacientes em uso prolongado de imunossupressores devem continuar seu uso durante a pandemia de Covid-19.

Se os pacientes apresentarem sinais de infecção, a imunossupressão de longo prazo deve ser interrompida, exceto corticoides.

Declaração: O artigo não foi revisado por pares; não deve substituir o julgamento clínico individual e as fontes citadas devem ser verificadas. As opiniões expressas neste trabalho representam as opiniões dos autores e não necessariamente as da instituição anfitriã, do NHS, do NIHR, ou do Departamento de Saúde e Assistência Social. Os pontos de vista não substituem o aconselhamento médico profissional.

AUTORES

Asli Kalin é um acadêmico que atua como clínico geral e é bolsista do SPCR.

TERMOS DE BUSCA

Pesquisamos nos bancos de dados TRIP, Google Scholar, PubMed e o “Mapa Vivo” do EPPI-Centre de trabalhos sobre COVID-19 para identificar revisões secundárias ou orientações, e estudos primários que examinam a ligação entre medicamentos imunossupressores e a COVID-19, e/ou tratamento ou resultados da COVID-19 para pacientes com doenças respiratórias crônicas. Utilizamos termos de busca para descrever imunossupressores (esteróides, citostáticos, anticorpos monoclonais) em conjunto dos termos para descrever a COVID-19 e outras condições respiratórias (asma, DPOC e outras).

 


Fontes:

  1. Chan et al 2020 Clinical characteristics of 113 deceased patients with coronavirus disease 2019: retrospective study. BMJ
  2. D’Antiga 2020 Coronaviruses and immunosuppressed patients. The facts during the third epidemic Liver. Transplant
  3. Chen et al 2020 Epidemiological and clinical characteristics of 99 cases of 2019 novel coronavirus pneumonia in Wuhan, China: a descriptive study.  The Lancet
  4. Fei et al 2020 First Cases of COVID-19 in Heart Transplantation From China. The journal of Heart and Lung Transplantation
  5. Jain and Yuan 2020 Systematic review and meta-analysis of predictive symptoms and comorbidities for severe COVID-19 infection. MedRxiv Preprint
  6. https://www.rheumatology.org.uk/news-policy/details/Covid19-Coronavirus-update-members
  7. https://www.brit-thoracic.org.uk/about-us/covid-19-information-for-the-respiratory-community/
  8. European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC). Disease background of COVID-19 [cited 2020 1 March]. Available from: https://www.ecdc.europa.eu/en/2019-ncov-background-disease.