Nome original do viés: Novelty bias
Tradutor: Carolina Oliveira Cruz Latorraca
Primeiro revisor: Rafael Leite Pacheco
Segundo revisor: Rachel Riera
Introdução
O viés de novidade tem sido observado em muitas áreas da saúde. Os mecanismos pelos quais intervenções parecerem melhores quando são novas (ou quando seu uso é novo para uma condição clínica não usual) não são conhecidos e podem potencializar os efeitos que outros tipos de viés podem ter nessas intervenções.
O viés de novidade pode incluir os seguintes vieses:
- viés de seleção: por exemplo, quando os participantes dos primeiros estudos sobre um novo medicamento são mais cuidadosamente selecionados do que os participantes dos estudos posteriores;
- viés do resultado positivo: por exemplo, os resultados que favorecem um novo tratamento são seletivamente mais relatados do que quando o tratamento se torna usual.
- viés de relato dos desfechos;
- viés de confirmação;
- viés da moda.
O viés de novidade se refere à simples impressão de que um tratamento é melhor porque é novo. No entanto, podem haver outras circunstâncias em que um tratamento novo é realmente melhor quando é novo (por exemplo, um tratamento antimicrobiano pode ser realmente melhor quando é usado pela primeira vez, devido a baixas taxas de resistência).
Exemplos
Uma metanálise em rede de 522 estudos (116.477 participantes) observou que quando um medicamento é novo, ele parecia ser mais efetivo (1,18 vezes mais) do que quando o mesmo medicamento era comparado em estudos posteriores com medicamentos ainda mais novos.
De modo semelhante, uma metarregressão de 37 estudos sobre fluoxetina descobriu que, depois de ajustar para alguns fatores confundidores, a eficácia observada estava associada ao fato da fluoxetina ser usada no grupo intervenção ou no grupo controle.
Uma metaregressão de 61 estudos sobre intervenções para hepatite C observou que a manutenção da resposta ao tratamento, avaliada pelas transaminases ou contagem do RNA viral, foi 11,9% maior quando a intervenção era rotulada como “tratamento experimental” do que quando era rotulada como “controle”.
Um modelo de metanálise de múltiplos tratamentos com 229 estudos sobre agentes quimioterápicos para câncer de ovário, colorretal e de mama, mostrou que os efeitos do tratamento foram 6% maiores devido ao efeito produzido pelo fato do agente ser uma novidade (intervalo de confiança de 95% [IC95%] 2 a 16%).
Impacto
Baseado em metanálises de ensaios clínicos sobre medicamentos, o viés de novidade pode fazer com que a intervenção pareça ser 2 a 27% melhor quando se trata de uma intervenção nova. Pode haver algumas áreas clínicas para as quais o viés de novidade tenha um grande efeito. Essa permanece sendo uma área importante para futuras pesquisas.
Passos para prevenção
Os autores de estudos sobre intervenções novas devem mencionar explicitamente se a diferença observada pode ser explicada pelo viés de novidade. Os editores de revistas científicas poderiam solicitar para que os autores dos estudos mencionem a possibilidade do viés de novidade quando um estudo sobre uma intervenção mostra que ela parece ser discretamente melhor do que uma intervenção mais antiga. Da mesma forma, os autores dos estudos posteriores que apresentam resultados menos favoráveis da mesma intervenção que não é mais uma novidade, deveriam tentar identificar as diferenças entre os estudos que podem produzir resultados diferentes.
Profissionais da saúde e pacientes devem levar em consideração o viés de novidade quando tomam decisões baseadas nos resultados dos estudos. Por exemplo, para resultados que sugerem que um novo antidepressivo é 10% melhor do que o antigo, é possível que na verdade esses dois medicamentos sejam equivalentes, mas o novo parece melhor devido ao viés de novidade.
Link para o original: https://catalogofbias.org/biases/novelty-bias/
Deve ser citado como: Catalogue of Bias Collaboration. Persaud N, Heneghan C. Novelty Bias. In: Catalogue Of Bias: https://catalogofbias.org/biases/novelty-bias/
Fontes
Cipriani A et al. Comparative efficacy and acceptability of 21 antidepressant drugs for the acute treatment of adults with major depressive disorder: a systematic review and network meta-analysis. Lancet. 2018 Apr 7;391(10128):1357-1366. doi: 10.1016/S0140-6736(17)32802-7.
Barbui C et al. “Wish bias” in antidepressant drug trials? J Clin Psychopharmacol. 2004 Apr;24(2):126-30. Review. PubMed PMID: 15206658.
Tinè F at al. Evidence of bias in randomized clinical trials of hepatitis C interferon therapies. Clin Trials. 2017 Oct;14(5):483-488.
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