Nome original do viés:  Detection bias

Tradutor: Ana Luiza Cabrera Martimbianco

Primeiro revisor: Rafael Leite Pacheco

Segundo revisor: Rachel Riera

Diferenças sistemáticas entre grupos com relação a como os desfechos são determinados.

 

Introdução

Um teste ou tratamento para uma doença pode ter um desempenho diferente de acordo com as características dos participantes do estudo, que por si só podem influenciar a probabilidade de detecção da doença ou a efetividade do tratamento. O viés de detecção pode ocorrer em estudos onde os grupos diferem na forma como as informações dos desfechos são coletadas ou na forma como os desfechos são verificados.

Exemplo

Homens maiores têm próstatas maiores, o que dificulta o diagnóstico de câncer de próstata por meio de biópsia (é mais difícil atingir o alvo). Portanto, homens com próstatas maiores são menos propensos a terem o diagnóstico preciso de câncer de próstata. Assim, uma associação real entre obesidade e risco de câncer de próstata pode ser subestimada.

Este fato foi demonstrado por pesquisadores que descobriram que a obesidade aumentava o risco de câncer de próstata. Sem considerar o tamanho da próstata, no entanto, a relação entre obesidade e câncer de próstata é subestimada.

Tabela 1. Associação entre peso corporal e incidência de câncer de próstata antes e depois do ajuste para o volume prostático.

Peso/ Modelo de associação Modelo de linha de base *, razão de chances (IC95%) Modelo de linha de base ajustado para o volume prostático**, razão de chances (IC95%)
Normal 1 1
Sobrepeso 1,41 (1,01 a 1,97) 1,52 (1,08 a 2,14)
Obesidade 1,59 (1,09 a 2,33) 1,77 (1,20 a 2,62)
Volume da próstata (por 10ml) NA 0,92 (0,88 a 0,97)

* Modelo considera pareamento e ajustes de acordo com a história familiar, nível de PSA e exame de toque retal durante o seguimento. ** Modelo considera pareamento e ajustes de acordo com a história familiar, nível de PSA e exame de toque retal durante o seguimento e o volume da próstata.

Valores subestimados da associação entre obesidade e risco global de câncer de próstata pode existir na literatura (Rundle A et al., 2017).

 

Impacto

O viés de detecção pode superestimar ou subestimar o tamanho do efeito. Por exemplo, uma revisão sistemática recente mostrou que, em média, a presença de avaliadores ‘não cegos’ de desfechos em estudos randomizados aumentaram o odds ratio (razão de chances) em 36%.

Outros estudos têm sugerido que o risco de um segundo câncer de mama pode ser maior entre mulheres que usam estatinas e menores entre mulheres que usam antibióticos, quando comparadas a um grupo de mulheres que não fazem esses tratamentos. `

Em um estudo de coorte de sobreviventes de câncer de mama, houve diferenças sistemáticas em relação à quantidade de exames de rastreamento que essas mulheres realizaram, dependendo dos medicamentos que elas usavam. Isso significa que qualquer associação observada pode ter sido afetada pelo viés de detecção.

Um estudo de coorte que investigou a relação entre tabagismo e risco de câncer basocelular ou escamoso observou que fumantes tinham riscos significativamente menores de carcinoma basocelular, mas maiores de carcinoma de células escamosas. Ex-fumantes tinham riscos semelhantes para cada câncer, assim como os que nunca fumaram. No entanto, quando os pesquisadores analisaram mais detalhadamente descobriram que os fumantes realizaram menos exames e procedimentos de pele do que os participantes que nunca fumaram.

Passos para prevenção

Estudos de intervenção devem ser planejados para assegurar que todos os grupos tenham chance equivalente de serem afetados por fatores conhecidos que influenciam a detecção. O uso de métodos de randomização em estudos de intervenção também visa gerar grupos semelhantes com relação aos fatores desconhecidos. Nos estudos observacionais, as potenciais fontes de viés de detecção devem ser investigadas e, se identificadas, ajustadas ou estratificadas para esclarecer as associações de interesse observadas.

Ajuste estatístico para as diferenças identificadas pode ser usado para ajudar a reduzir o problema. Por exemplo, ajuste para a idade com o objetivo de evitar discrepâncias na idade que possam levar a uma observação espúria de associação / efeito. O viés de detecção também pode ser devido ao conhecimento das intervenções alocadas pelos avaliadores dos desfechos; portanto, estes devem ser cegados para a intervenção.

Link para o original: https://catalogofbias.org/biases/detection-bias/

 

Deve ser citado como: Catalogue of Bias Collabaration, O’Sullivan J, Banerjee A, Pluddemann. Detection bias. In: Catalogue of Bias 2017: https://catalogofbias.org/biases/detection-bias/

 

Fontes:

Cochrane Methods Bias. Assessing Risk of Bias in Included Studies

Hróbjartsson A, et al. Observer bias in randomised clinical trials with binary outcomes: Systematic review of trials with both blinded and non-blinded outcome assessors. BMJ 2012;344:e1119.

Dusingize JC, et al. QSkin Study. Cigarette smoking and the risks of basal cell carcinoma and squamous cell carcinoma. J Invest Dermatol. 2017 Apr 13. pii: S0022-202X(17)31412-4. doi: 10.1016/j.jid.2017.03.027.

Rundle A, et al. Larger men have larger prostates: Detection bias in epidemiologic studies of obesity and prostate cancer risk. Prostate. 2017 Mar 27. doi: 10.1002/pros.23350.

Wirtz HS et al. Evidence for Detection Bias by Medication Use in a Cohort Study of Breast Cancer Survivors. Am J Epidemiol (2017) 185 (8): 661-72.

 

Essa fonte é recuperada dinamicamente a partir do PubMed:

Johansson M, Brodersen J, Gøtzsche PC, Jørgensen KJ. Screening for reducing morbidity and mortality in malignant melanoma.

 

Leia mais: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmedterm=systematic%5Bsb%5D%20AND%20(%22detection%20bias%22)