Tradutores: Airton Tetelbom Stein, Ana Luiza Cabrera Martimbianco
Tom Jefferson, Carl Heneghan
A tentativa mais famosa de identificar a origem de um surto a partir da distribuição de casos é o mapa icônico de John Snow do surto de cólera de 1854, com um epicentro no Soho.
A hipótese de Snow era que a cólera era transmitida por água contaminada, retirada de uma bomba particular, situada na Broad Street (figura abaixo, marcada por um ponto negro).
Esta hipótese não era aceita, pois a grande maioria dos contemporâneos de Snow eram anticontagionistas, ou seja, acreditavam que as doenças transmissíveis eram causadas por vapores ou miasmas que emanavam do esgoto e do lixo em decomposição. Um vestígio desta teoria pode ser encontrado no termo malária (italiano arcaico para ar ruim).
De porta em porta e usando certificados de óbito, Snow foi capaz de reconstruir a densidade de mortes (cada barra preta representava uma morte). A ocorrência de mortes foi menos frequente, quanto mais longe você se afastava da bomba, sugerindo uma relação espacial entre possível exposição e o desfecho. A relação é uma sugestão, não uma prova.
O mapa da Rua Broad é um modelo retrospectivo elaborado para relatar os resultados do teste de uma hipótese (a possível correlação entre a água não potável da bomba da Rua Broad e as mortes por cólera).
A figura é um modelo matemático muito simples, com grande clareza gráfica. A questão aqui é que a de Snow era apenas uma hipótese. Na sua raiz estava a incerteza, seguida de observações e, em seguida, testes empíricos. Não encontramos nenhuma afirmação que se caracterizava como uma ilusão nas duas versões de Snow de seu trabalho e nas aplicações subsequentes de sua hipótese.
Snow era obsessivo e minucioso. Ele entendeu que estava lidando com muita incerteza. Ele também entendeu que um agente e uma população alvo por si só não são suficientes para explicar as origens e a complexa propagação de uma epidemia, um tópico que discutiremos em posts posteriores.
Um equivalente moderno de uma escala muito grande de um modelo retrospectivo é o da tão combatida pandemia da gripe H1N1, 009. Amplamente previsto pelos adivinhadores para se originar da Ásia em 2005, a qual se materializou em 2009 na América Central. Até hoje as razões para esta localização não são entendidas, apesar das maravilhas da tecnologia moderna. Também não se entende por que, após um início explosivo, ele efervesceu após alguns meses para se tornar uma forma mais branda de gripe sazonal. Ainda existem – muitas – incertezas.
Figura. “Mapa da topografia do surto” em torno da Golden Square London, em agosto de 1854.
John Snow, Sobre o Modo de Comuicação da Cólera. Segunda Edição, Churchill, 1855.
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