Tradutores: Ana Paula Pires dos Santos, Luis Eduardo Fontes


 

17 de abril de 2020

Carl Heneghan, Jason Oke, Tom Jefferson

 

O governo do Reino Unido realiza um briefing diário e divulga dados sobre os novos casos de COVID-19 no Reino Unido.

Na avaliação dos novos casos no Reino Unido, o governo define como casos Pilar 1 como necessidades médicas do Serviço Nacional de Saúde (NHS) e os trabalhadores-chave mais críticos; o Pilar 2 são aqueles que se submetem a testes comerciais para trabalhadores-chave do Serviço Nacional de Saúde e outros setores.

Aqui está o briefing do gabinete de 15 de Abril; e os Slides e conjuntos de dados para acompanhar a reunião de 16 de abril

Dados do dia 15 de abril mostram que 13,8% dos positivos são trabalhadores-chave no NHS e outros setores. Dados do dia 16 de abril mostram que 16,2% dos positivos são trabalhadores-chave.

Utilizando o modelo de regressão de Poisson para os dados de contagem, e não incluindo os quatro primeiros pontos de dados do Pilar 2 por serem não lineares, observamos que a taxa do Pilar 1 aumentou a uma taxa de 2,0% por dia, enquanto a taxa do Pilar 2 aumentou a uma taxa mais rápida de 9,1% por dia (esta é uma estimativa conservadora, pois a inclusão dos dados iniciais aumenta a taxa do Pilar 2).

 

É difícil calcular as taxas de infecção relacionadas aos trabalhadores da área de saúde em geral, pois elas parecem estar em ambas as contagens Pilar 1 e 2 (Pilar 1 inclui os trabalhadores-chave mais críticos).

Se assumirmos que 20% dos ‘trabalhadores-chave críticos’ do Pilar 1 estão relacionados aos trabalhadores da área de saúde, então podemos estimar que quase um terço (1408/4618 = 30,5%) de todos os casos infectados no dia 16 de abril estão relacionados aos trabalhadores da área de saúde.

 

 

Em nosso artigo sobre o Ponto de inflexão, destacamos que na Itália o excesso de encaminhamento levou a um número significativo de pessoas doentes a aparecerem ou serem encaminhadas para  hospitais na Lombardia. A doença então se espalhou rapidamente no ambiente hospitalar. Os trabalhadores da área da saúde então tinham maior risco de exposição e se tornaram vetores de transmissão daí em diante.  Na China, mais de 3.300 profissionais de saúde foram infectados (4% dos 81.285 reportaram infecções). Na Espanha, em 25 de março, cerca de 6,500 profissionais da área da saúde foram infectados (13,6%) dos 47.600 casos totais do país – 1% da força de trabalho do sistema de saúde.

No artigo A saída de William Farr da Pandemia, apontamos que a infecção pelos trabalhadores da área da saúde foi um grande problema no surto da SARS 2002-03 em Toronto, pois a transmissão ocorreu principalmente dentro dos ambientes de atenção à saúdeUma análise retrospectiva de 138 pacientes em Wuhan corrobora isto, já que a transmissão associada ao hospital foi suspeita em 41% dos casos.

A proporção de trabalhadores da área da saúde no Pilar 1 pode ser maior ou menor do que a nossa estimativa. Não podemos dizer. Evidências anedóticas apontam que um número maior de trabalhadores da área da saúde estão sendo infectados: em Newport, País de Gales, cerca de metade da equipe do departamento de emergência testou positivo. No entanto, sem um teste abrangente dos trabalhadores da área da saúde, nunca saberemos realmente quantos estão infectados.

Reduzir a transmissão nos hospitais e entre os trabalhadores da área da saúde continua sendo vital para a resolução deste surto.

AUTORES

Jason Oke é um estatístico senior no Nuffield Department of Primary Care Health Sciences. (Biografia aqui)

Carl Heneghan é professor de Medicina Baseada em Evidência, diretor do Centro de Medicina Baseada em Evidência. (Biografia completa e declaração de conflitos de interesse aqui).

Tom Jefferson é um tutor associado senior e pesquisador honorário, Centro de Medicina Baseada em Evidência, Universidade de Oxford.  Declaração de conflitos de interesse aqui