Tradutores: Ana Paula Pires dos Santos, Luis Eduardo Fontes


27 de maio de 2020

 

Trisha Greenhalgh

 

Várias pessoas escreveram para perguntar sobre a revisão do site Covid-19 Evidence ‘Máscaras usar ou não’. Nessa revisão, Carl Heneghan e Tom Jefferson resumiram os resultados de uma revisão sistemática publicada inicialmente em 2011 e atualizada este ano. Essa revisão focou principalmente em máscaras médicas para trabalhadores da área de saúde, mas também analisou ensaios controlados randomizados sobre máscaras e coberturas faciais para o público leigo. A interpretação de Heneghan e Jefferson sobre essas evidências foi que não há evidências suficientes para apoiar o uso de máscaras por membros do público. Eles também especularam que as máscaras poderiam causar danos.

A minha própria interpretação da evidência é diferente. Eu reconheço que muitos cientistas consideram as evidências pouco convincentes, e concordo plenamente com Carl e Tom que faltam evidências de eficácia de ensaios controlados randomizados. Apesar disso, acredito que as coberturas faciais de tecido (eu prefiro não chamá-las de máscaras) para o público são uma importante medida de saúde pública na atual crise, e estou encantada que o governo do Reino Unido esteja agora recomendando o uso de coberturas faciais em tecido em locais públicos confinados.

Por que os principais cientistas estão tão polarizados sobre esta questão?  Parece-me que não estamos discordando sobre quais são as evidências, mas o que elas significam.  Aqui estão algumas áreas de discordância:

  • A ausência de um ensaio controlado randomizado definitivo, juntamente com a hipotética possibilidade de dano (por exemplo, da compensação de risco) é um bom motivo para evitar a mudança de política? Alguns dizem que sim; eu digo que não.
  • Devemos levar em conta as histórias relatadas na imprensa leiga, como as de indivíduos aparentemente responsáveis por infectar dezenas e até centenas de outros em comícios, reuniões religiosas ou corais? Alguns dizem que não; eu digo que sim.
  • Devemos extrapolar de experimentos de laboratório sobre a capacidade de filtragem de diferentes tecidos para estimar o que é provável que aconteça quando as pessoas os usam na vida real? Alguns dizem que não; eu digo que sim.
  • Devemos usar relatos anedóticos de algumas pessoas usando suas máscaras “erroneamente” ou de forma intermitente para justificar não recomendá-las a todos? Alguns dizem que sim; eu digo que não.
  • Devemos levar em conta a possibilidade de que a promoção de máscaras para o público leigo pode levar à escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs) preciosos para os profissionais de saúde? Alguns dizem sim; eu digo que esta é uma questão relacionada à cadeia de suprimentos que não deve ser confundida com a evidência científica de benefício

Eu escrevi um artigo revisado por pares defendendo a minha interpretação das evidências, chamado “Coberturas faciais para o público leigo: deixando as falácias de lado”. Você pode lê-lo aqui.

Aviso: o artigo não foi revisado por pares; ele não deve substituir o julgamento clínico individual e as fontes citadas devem ser verificadas. As opiniões expressas neste comentário representam as opiniões dos autores e não necessariamente as da instituição anfitriã, do NHS, do NIHR, ou do Departamento de Saúde e Assistência Social. Os pontos de vista não são um substituto para o aconselhamento médico profissional..

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Trish Greenhalgh é uma Professora de Ciências da Saúde na Atenção Primária, co-Diretora da unidade de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências da Saúde (IRIHS), e coordenadora do módulo Conhecimento em Ação – Knowledge Into Action (KIA) do Mestrado em Cuidado em Saúde Baseado em Evidência.