Tradutores: Luis Eduardo Santos Fontes, Rafael Leite Pacheco, Ana Luiza Cabrera Martimbianco


Veredito: Se termômetros periféricos forem usados, estes não detectarão febre em cerca de 4 entre 10 crianças febris. Clínicos não devem confiar em termômetros periféricos para a tomada de decisão. Se não houver alternativa, considere que a temperatura medida será pelo menos +/- 1.5oC diferente e peça medidas repetidas

Crianças menores de 5 anos
Em crianças com menos de 5 anos o conselho é claro e pode ser encontrado em diretriz recente do NICE (National Institute for Health and Care Excellence):
“1.1.5 termômetros químicos frontais não são confiáveis e não devem ser usados por profissionais de saúde.”

Crianças
Para crianças em geral (não só abaixo de 5 anos), as evidências parecem variáveis! O artigo mais antigo que encontramos foi “An Evaluation of a Plastic Strip Thermometer” que relata: “Nós concluímos que o Clinitemp (termômetro de fita usado na testa) é inaceitável como substituto do termômetro de mercúrio”. No mesmo ano, um estudo menor (n=134) relatou: “Pais que confiam nessas fitas para identificar febre em suas crianças podem ser enganados por medidas afebris errôneas”.
Um estudo de 1996 com 120 pacientes (20 em cada faixa etária: < 1 mês, 1 a 5 meses, 6 a 11 meses, 12 a 23 meses, 2 a 14 anos, e adultos concluiu que todos os estudos prévios usaram métodos inadequados de análise…. Termômetros de fita frontais são fáceis de usar, mas não estimam a temperatura retal com a mesma precisão que a temperatura axilar”.
Um estudo transversal mais recente de 2018, com 995 crianças, observou que a medida temporal da temperatura não é recomendável, mas a medida no ouvido se mostrou útil para fins de triagem, especialmente entre crianças de seis meses a 5 anos.

Crianças e adultos
Três revisões foram encontradas, sendo a mais antiga a 2010 RACGP review, que concluiu: “as medidas dos termômetros digitais são mais concordante com o termômetro de mercúrio. O termômetro timpânico infravermelho pode ser uma opção preferencial para pacientes não cooperativos. O termômetro de testa em cristal líquido é melhor para ser usado em casa”.
Em 2012, o Healthcare Improvement Scotland produziu uma revisão de escopo de tecnologias, que mostrou:
• Evidência proveniente de grupos de pacientes adultos e pediátricos sugerem que o termômetro arterial temporal apresenta acurácia insuficiente para o uso clínico em pacientes internados. Seis estudos compararam ambos termômetros arterial temporal (TAT) e o de ouvido infravermelho: quatro estudos foram favoráveis ao uso do TAT.

Termômetros de ouvido infra-vermelhos

Uma Revisão sistemática de 2015, com 75 estudos (n = 8682) sobre a acurácia dos termômetros periféricos relatou que a maioria dos estudos tinha alto risco de viés ou risco incerto. Os resultados principais foram:
• Termômetros periféricos têm limites de concordância combinados de 95% fora da faixa clínica aceitável (+/- 0,5oC),
• Especialmente entre pacientes com febre (-1,44oC a 1,46oC para adultos; -1,49°C a 0,43°C para crianças),
• Para detecção de febre, a sensibilidade foi baixa (64%) e a especificidade foi alta (96% [IC 93% a 97%]; I2= 96,3%; p<0.001).

Limitações: Dados de alta qualidade para algumas técnicas de medida de temperatura são limitadas. Dados combinados são associados com heterogeneidade entre os estudos que não é explicada por análises estratificadas e meta-regressão. O desempenho deles pode ser melhorado por medidas repetidas, e eles podem ser úteis para medir a temperatura em crianças enquanto elas estão dormindo.

Adultos
Nós encontramos um único estudo com 201 adultos em UTI, que relatou que termômetros compactos digitais axilares e termômetros digitais com sonda obtiveram a maior pontuação geral da avaliação.


Transparência do processo de produção e divulgação: o artigo não teve revisão por pares; ele não deve substituir o julgamento clínico individual e as fontes citadas devem ser checadas. O ponto de vista expresso neste comentário representa o ponto de vista dos autores e não necessariamente o ponto de vista da instituição sede, o NHS, o NIHR, ou o Departamento de Saúde. Os pontos de vista não substituem a recomendação do médico.

Link para o original: https://www.cebm.net/covid-19/accuracy-of-strip-like-forehead-thermometers/

Autores

Jon Brassey é diretor da Trip Database Ltd, líder de  “Knowledge Mobilisation” na Public Health Wales (NHS) e editor associado no BMJ Evidence-Based Medicine

Carl Heneghan é editor chefe do BMJ EBM e professor de Evidence-based Medicine, Centre for Evidence-Based Medicine no Nuffield Department of Primary Care Health Sciences, University of Oxford.