Nome original do viés: Publication bias

Tradutor: Carolina Oliveira Cruz Latorraca

Primeiro revisor: Rafael Leite Pacheco

Segundo revisor: Rachel Riera

Introdução

Dickersin & Min definem viés de publicação como a falha ao se tentar publicar os resultados de um estudo devido á causa da direção ou à força dos seus achados. A ausência de publicação introduz um viés que pode impactar na capacidade de sintetizar e descrever de forma acurada as evidências existentes em uma determinada área.

Viés de publicação é um tipo de viés de relato e está muito relacionado ao viés de disseminação, apesar de o viés de disseminação geralmente ser aplicado a todas as formas de disseminação de resultados, não apenas a disseminação em revistas científicas. Diferentes tipos de viés são normalmente agrupados na definição geral de viés de publicação.

Existem muitas razões para o viés de publicação identificado na literatura. Pesquisas têm mostrado que as causas do viés de publicação incluem motivos pessoais dos autores, experiências anteriores, surgimento de outros compromissos; falta de interesse percebida ou real de editores, revisores e outros colegas nos achados do estudo; conflito de interesse que levaria a omitir resultados que não condizem com os desejados/esperados.

Exemplos

No seu estudo de 1986 sobre viés de publicação em pesquisa clínica, Robert John Simes comparou o impacto de duas opções terapêuticas na sobrevida dos pacientes com câncer a partir de uma base de registros de ensaios clínicos de câncer e a partir de dados da literatura publicada.

Simes observou que o impacto das opções terapêuticas na sobrevida desapareceu ou diminuiu muito quando os dados publicados na literatura acadêmica foram comparados com os dados mais completos dos registros.

O viés de publicação é frequentemente avaliado nos estudos de coorte, como no exemplo de Simes, quando o status da publicação é assegurado  por um conjunto de ensaios clínicos conhecidos.

Pesquisas sobre tratamentos para depressão são um exemplo mais recente. Turner e colegas observaram que 31% dos estudos de coorte sobre medicamentos antidepressivos, registrados e relatados ao Food and Drugs Administration (FDA) nunca foram publicados. Na literatura publicada, 91% dos estudos apresentavam resultados positivos enquanto no maior estudo de coorte do FDA, 51% dos estudos forneciam resultados positivos.

Driessen e colaboradores revisaram todas as concessões do National Institute of Health (NIH), de 1972 a 2008, e que envolviam tratamentos psicológicos para depressão. Quando as publicações não eram encontradas, os autores solicitavam os dados aos beneficiários das concessões. Treze dos 55 ensaios clínicos (23,6%) identificados por este estudo nunca foram publicados. O tamanho do efeito dos tratamentos psicológicos foi reduzido em 25% quando os dados que não foram publicados foram incluídos na análise junto com os dados publicados. Resultados de estudos de coorte como esses têm sido incluídos em revisões sistemáticas.

Uma revisão sistemática avaliou o viés de publicação em 20 estudos de coorte e ensaios clínicos controlados e observou que ‘desfechos estatisticamente significativos tiveram mais chance de serem totalmente publicados quando comparados a desfechos que não tiveram resultados significativos (razão de chances variou de 2,2 a 4,7)” 92013 (Dwan et al. 2013).

Outra revisão sistemática avaliou estudos sobre o viés de publicação e de disseminação realizados utilizando pesquisas aprovadas pelos comitês de ética ou registrados em plataformas de registro de ensaios clínicos. Os autores desta revisão observaram que entre os 23 estudos de coorte, resultados estatisticamente significantes apresentaram maior probabilidade de serem publicados do que os outros (razão de chances = 2,8; intervalo de confiança [IC] = 2,2 a 3,5)” (Schmucker et al., 2014).

Impacto

Os exemplos acima ajudam a ilustrar o impacto do viés de publicação. Ele pode incluir a não publicação de um único estudo important e pode também comprometer a avaliação completa de uma área terapêutica. Porém, assim como em outros viéses, grande parte dos estudos quantitativos têm como foco documentar a prevalência do viés de publicação e não o seu impacto e assim, avaliar a direção e a magnitude desse viés pode ser difícil.

Schumucker e colaboradores conduziram uma revisão sistemática avaliando estudos sobre viés de publicação que também estimaram o impacto dos estudos não publicados na estimativa de efeito combinando os estudos. Os autores identificaram apenas sete estudos que mostraram aumento na precisão desta estimativa quando os dados não publicados foram considerados; e dois estudos que mostraram um efeito estatisticamente significante dos dados não publicados na estimativa de efeito combinada.

Passos para prevenção

A prevenção  de viés de publicação pode ser feita de muitas formas. Alguns periódicos tornaram a solicitação e publicação de resultados nulos como parte de seus objetivos principais.Porém, muitas barreiras documentadas para a publicação de estudos não podem ser resolvidas pela presença de periódicos receptivos a resultados nulos.

Na última década tem sido observadas várias iniciativas, nos Estados Unidos e na Europa, exigindo que ensaios clínicos relatem seus resultados diretamente nas páginas de seus  registros em até 12 meses após o seu término, seguindo um formato estruturado e oferecendo uma fonte de dados adicional sem as barreiras enfrentadas no processo de publicação em periódicos científicos. Infelizmente, surgem cada vez mais evidências que essas leis e diretrizes são burladas e têm baixa taxa de adesão.

Autores de revisões sistemáticas e metanálises também podem realizar alguns passos para reduzir o impacto da não publicação em suas pesquisas. A busca por evidências não deve ser limitada a apenas artigos de periódicos indexados em bases de dados acessadas via PubMed ou Ovid.

Os autores podem e devem buscar por resultados por outras vias, como plataformas de registros de ensaios clínicos, documentos de agências regulatórios, e contatando autores de estudos conhecidos ou de estudos que provavelmente não foram publicados. Eles também podem utilizar métodos estatísticos para estimar se a quantidade de estudos encontrada foi afetada pelo viés de publicação.

Os gráficos de funil são frequentemente utilizados para visualizar se os achados foram afetados pelo viés de publicação, mas devem ser interpretados com cuidado. Existem métodos estatísticos mais rigorosos para avaliar o viés de publicação. Esses métodos devem ser considerados em revisões sistemáticas com metanálises quando apropriado.

Link para o original: https://catalogofbias.org/biases/publication-bias/

 

Deve ser citado como:

Catalogue of bias collaboration, Devito N, Goldacre B. Publication bias. In Catalogue Of Bias. 2019. https://catalogofbias.org/biases/publicationbias/

 

Fontes:

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Esta fonte pode ser recuperada de modo dinâmico pelo PubMed:

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