Nome original do viés: Spectrum bias

Tradutor: Carolina Oliveira Cruz Latorraca

Primeiro revisor: Rafael Leite Pacheco

Segundo revisor: Enderson Miranda

Terceiro revisor: Rachel Riera

Introdução

Um teste diagnóstico ideal deveria ter alta sensibilidade (probabilidade do teste ser positivo em quem tem a doença) e alta especificidade (probabilidade do teste ser negativo em quem não tem a doença). Porém, a sensibilidade e a especificidade de testes diagnósticos podem ser afetadas pelas diferentes espectros/características de pacientes (como a gravidade da condição) e cenários diferentes (como diferentes desenhos de estudo, atenção primária ou terciária), e isso seria o viés de espectro.

 

Exemplos

Uma revisão sistemática avaliou a acurácia diagnóstica do anticorpo anti-peptídeo citrulinado (anti-CCP) no diagnóstico de artrite reumatoide e incluiu 151 estudos primários com diferentes desenhos. Os estudos de caso-controle, que incluíram indivíduos com (casos) e sem (controle) artrite reumatoide, superestimaram a sensibilidade do teste anti-CCP.

Uma revisão sobre estudos de acurácia de testes para diagnóstico de síndrome do túnel do carpo mostrou que tanto a sensibilidade quanto a especificidade foram superestimadas em estudos do tipo caso-controle. O desempenho do teste também pode variar baseado nas características da população afetada, por exemplo, em um estudo avaliando o desempenho de um teste de exercício para doença arterial coronariana.

Impacto

O viés de espectro pode ter efeitos variados na sensibilidade e especificidade. Existem evidências consistentes a utilização de estudos caso-controle para avaliação da acurácia diagnóstica, a sensibilidade e a especificidade aumentam.

Uma revisão de metanálises de estudos de acurácia diagnóstica descobriu que a maior superestimativa da acurácia ocorreu em estudos que incluíram casos graves e controles saudáveis (razão de chances relativa do diagnóstico, 4,9, intervalo de confiança de 95% 0,6 a 37).

Casos graves são mais fáceis de detectar, e portanto, aumentam a estimativa da sensibilidade, enquanto controles saudáveis ocasionam menos resultados falso-positivos, e por sua vez, superestimam a especificidade. Estudos que utilizaram outros desenhos de caso-controle produzem estimativas similares aos estudos de coorte.

Estudos que incluem pacientes não consecutivos estão associados com uma superestimativa de 50% da razão de chances para o diagnóstico quando comparados com estudos com pacientes consecutivos.

Passos para prevenção

Estudos primários de acurácia diagnóstica devem recrutar indivíduos que representam a população em que o teste será normalmente utilizado, como orientado pelas ferramentas STARD (Standards for Reporting of Diagnostic Accuracy Studies) e pelo PRISMA DTA (PRISMA extension for Diagnostic Test Accuracy). Idealmente, os indivíduos devem ser recrutados de forma consecutiva. Se isso falhar, a mistura dos casos na amostra do estudo deve ser explicitamente apresentada.

Revisões sistemáticas de acurácia diagnóstica devem incluir análises de subgrupos pré-especificadas considerando todas as características (espectro) clinicamente relevantes dos pacientes.

Ao se utilizar um teste diagnóstico em particular, os profissionais da saúde devem estar cientes das diferenças das características/espectro entre os pacientes ou populações que estão atendendo e os indivíduos incluídos na pesquisa. Essa informação pode ser utilizada para considerar potenciais mudanças na sensibilidade e especificidade do teste, e seu efeito nos valores preditivos.

Link para o original: https://catalogofbias.org/biases/spectrum-bias/

 

Deve ser citado como:  Catalogue of Bias Collaboration. Pluddemann A, Banerjee A, O’Sullivan J; Spectrum bias. In: Sackett Catalogue Of Bias 2019. https://catalogofbias.org/biases/spectrum-bias/

 

Fontes

Bossuyt PM STARD Group, et al. STARD 2015: an updated list of essential items for reporting diagnostic accuracy studies. BMJ. 2015 Oct 28;351:h5527.

Boyer K et al. Effects of bias on the results of diagnostic studies of carpal tunnel syndrome. J Hand Surg Am. 2009 Jul-Aug;34(6):1006-13.

McInnes MDF et al. Preferred Reporting Items for a Systematic Review and Meta-analysis of Diagnostic Test Accuracy Studies: The PRISMA-DTA Statement.JAMA. 2018 Jan 23;319(4):388-396.

Moons KG et al. Limitations of sensitivity, specificity, likelihood ratio, and bayes’ theorem in assessing diagnostic probabilities: a clinical example.Epidemiology. 1997 Jan;8(1):12-7.

Rutjes AW et al Evidence of bias and variation in diagnostic accuracy studies. CMAJ. 2006 Feb 14;174(4):469-76.

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Whiting PF et al. A systematic review classifies sources of bias and variation in diagnostic test accuracy studies. J Clin Epidemiol. 2013 Oct;66(10):1093-104.