Tradutores: Carolina de Oliveira Cruz Latorraca, Ana Luiza Cabrera Martimbianco


 

Parecer

Essa revisão rápida foca em como minimizar o desenvolvimento da fragilidade em pessoas que antes eram ativas, mas agora estão reclusas em casa devido ao isolamento pelo COVID-19. Existem poucas evidências sobre como aumentar a mobilidade de pessoas idosas que estão isoladas em casa.

Essa revisão rápida tem 4 mensagens principais:

  • Existe alguma evidência que fazer movimentos e exercícios pode reduzir os elementos relacionados à fragilidade.
  • Uma mistura de exercícios de resistência, força e equilíbrio parece ser mais efetiva para essa população.
  • Adicionar um elemento social ao exercício pode melhorar a aderência e a motivação para realizá-lo. Isso também pode minimizar o risco de depressão e ansiedade, os quais podem piorar a fragilidade.
  • Pode existir espaço para a tecnologia apoiar os programas de exercícios via internet, transmissões da mídia ou video-games, por exemplo.

Introdução

As políticas de isolamento social do Reino Unido relacionadas ao COVID-19, recomendam que pessoas idosas (maiores de 70 anos) fiquem em casa pelos próximos 3 a 4 meses.

Alguns idosos podem já estar em reclusão domiciliar e/ou serem frágeis. Porém, muitos idosos acima de 70 anos normalmente manteriam uma variedade de atividades regulares fora de casa.

Estratégias de isolamento social podem reduzir as atividades físicas e caminhadas dos pacientes, e levar a um aumento do comportamento sedentário. A mobilidade prejudicada em idosos tem impacto negativo na qualidade de vida e em vários outros aspectos da saúde e bem-estar. O risco de aumentar o sedentarismo é prejudicar a mobilidade.

Objetivo

Essa revisão rápida teve como objetivo avaliar as evidências das intervenções para aumentar a mobilidade de pessoas idosas, e minimizar a redução dos níveis de atividade física e fragilidade.

Evidências atuais

Os exercícios reduzem a fragilidade?

Existem evidências claras de revisões sistemáticas que os exercícios podem melhorar a mobilidade, prevenir a fragilidade, e melhorar e manter as habilidades funcionais. Os programas de exercícios são recomendados pela Internation Conference of Frailty and Sarcopenia Research Taskforce (Conferência Internacional de Pesquisa de Fragilidade e Sarcopenia) para tratar a fragilidade.

Uma revisão de 2015 de programas de exercícios individualizados domiciliares demonstrou melhora significativa na atividade física, equilíbrio, mobilidade e força muscular, mas todas as intervenções incluem visitas particulares em casa.

Uma metanálise de 2015 com seis estudos demonstrou que exercícios realizados em casa levaram à redução de 22% das quedas, mas, novamente, a maioria dos exercícios incluídos eram com contato pessoal.

Os exercícios devem ser recomendados para todas as pessoas idosas que estão em isolamento social, mas as que já são mais ativas podem obter maiores benefícios. Uma revisão sistemática com 21 estudos (a maioria pequenos), mostrou que o grupo exercício associado à exercícios domiciliares foi efetivo na prevenção da fragilidade para todas as idades. Porém, outra revisão sistemática de sete ECRs (ensaios clínicos randomizados) sugere que as pessoas que já apresentam certa fragilidade no início do programa de exercícios são mais favoráveis a experienciar melhorias na mobilidade e na funcionalidade.

Um estudo qualitativo mostrou que os exercícios para manter a mobilidade são muito aceitos por pessoas idosas já com certa fragilidade.

Quais tipos de exercícios ajudam?

A maioria das evidências disponíveis não apresentam conclusões definitivas sobre quais exercícios deveriam ser incluídos em programas para pessoas idosas. Revisões sistemáticas de exercícios em grupo sugerem que programas de exercícios com múltiplos componentes são efetivos e mais bem aceitos para melhora da função física, equilíbrio e força muscular em idosos com sinais de fragilidade e frágeis, e reduzem a fragilidade de idosos da comunidade. Uma revisão sistemática recente recomenda a combinação de exercícios de baixa intensidade conforme:

  • Exercícios de resistência para melhorar a força para os dois braços e as duas pernas
  • Exercícios funcionais (como sentar e levantar, desvio de obstáculos e subir escadas)
  • Exercícios sobre equilíbrio, por exemplo, ficar em pé, levantamento de peso multidirecional, andar com o calcanhar, andar em linha reta, ficar em pé em uma perna só, transferência de peso (de uma perna para a outra)
  • Exercício de resistência como caminhada ou subir escadas

Faixas de resistência podem ajudar. Um ECR avaliando exercícios de resistência com faixa para força corporal superior e inferior (45 a 60 minutos incluindo aquecimento e alongamento, 3 vezes por semana, por 8 semanas) mostrou redução da fragilidade, melhora da força muscular, da velocidade da marcha e da atividade física quando comparado ao grupo controle em 70 idosos com sinais de fragilidade.

Quais as evidências para exercícios em casa?

Programas de exercícios em casa focados apenas na flexibilidade eram normalmente usados nos grupos controle.

Um ensaio clínico recente sobre exercícios em casa sugere uma abordagem com múltiplos componentes. Esse ensaio clínico randomizado avaliou uma intervenção nutricional em conjunto com caminhada fora de casa e um programa de 15 exercícios mesclados (3 para fortalecimento dos braços, 7 para fortalecimento das pernas e 5 para equilíbrio e coordenação) por, pelo menos, 4 vezes por semana. Os componentes do exercício eram realizados em casa e sem supervisão após uma sessão de treino para aprendizado no local de atendimento primário. Nos 133 idosos analisados, o risco de fragilidade foi reduzido em 5 vezes após 1 ano quando comparado ao grupo controle.

Outra grande revisão sistemática mostrou evidências que programas de Tai Chi podem reduzir quedas.

Reduzir a quantidade de tempo gasta com sedentarismo por atividades do dia a dia podem ajudar a manter a mobilidade. Uma revisão sistemática sugere que mais comportamentos sedentários estão associados a redução da habilidade para realizar as atividades diárias.

Com qual frequência e por quanto tempo os idosos deveriam realizar exercícios físicos?

Para efeitos de força muscular, equilíbrio e fragilidade, revisões sugerem de 20 a 45 minutos, pelo menos 3 a 4 vezes por semana.

Uma revisão sistemática de 20 ECRs abordou treinamentos em grupo para idosos frágeis e recomendou que programas de resistência sejam realizados 2 a 3 vezes por semana, com conjuntos de 8 a 12 repetições e inclui exercícios com foco em atividades da vida diária (por exemplo, exercícios de sentar e levantar). Eles recomendam exercícios de resistência (caminhada, subida de escadas e bicicleta ergométrica) de 5 a 10 minutos, com progressão da duração. Treinos de equilíbrio só foram efetivos quando combinados a outros tipos de exercícios.

Outra revisão sistemática mostrou que programas de 30 a 45 minutos realizados pelo menos 3 vezes por semana tiveram efeitos mais benéficos.

Idosos deveriam se exercitar por todo o período de isolamento. Uma grande revisão sistemática sobre exercícios para prevenção de quedas enfatiza a importância de manter o exercício ao longo do tempo – benefícios do Tai Chi foram encontrados após 20 semanas, e de exercícios para equilíbrio e resistência após 25 semanas.

Qual o papel dos elementos sociais e da motivação para a realização de exercícios físicos?

Estudos qualitativos têm demonstrado que idosos são altamente motivados a realizar exercícios como uma forma clara de manter a mobilidade e a independência (Frost 2018 e Avgerinou et al 2019).

Porém, muitas revisões documentaram questões relacionadas à aderência a exercícios realizados em casa e isso precisa ser destacado em períodos de isolamento social. Necessidades apropriadas como foco e a individualidade das necessidades podem ajudar a aumentar o engajamento (Gwyther 2018). Formas que podem estimular os idosos a se engajar em exercícios físicos incluem:

Escolher atividades que eles gostem: evidências sugerem que as pessoas preferem exercícios relevantes para suas atividades diárias e que sejam agradáveis. Isso está associado a programas com maior sucesso (Gwyther et al 2018)

Propor objetivos sobre quando e onde realizar os exercícios (Avgerinou et al 2019).

Auto-monitoramento através de diários ou aplicativos para o telefone ou outros exercícios de monitoramento (por exemplo amigos, parentes, cuidadores como “treinadores”) (Avgerinou et al 2019).

Todas as intervenções avaliadas envolvem elementos de contato pessoal. A interação com familiares e amigos tem sido mostrada como relacionada à prevenção da fragilidade em idosos que não saem de casa (Katsura et al 2018). A oportunidade para a interação social no período de isolamento em virtude da pandemia do COVID-19 será limitada, então pode surgir uma oportunidade para o uso de tecnologias digitais.

Qual o papel da tecnologia?

A tecnologia pode ser utilizada como meio de levar a intervenção para as casas dos idosos e aumentar a interação social. Um estudo qualitativo demonstrou que idosos sentiram que a internet foi um bom recurso para melhorar a interação social quando se sentiram isolados (Davies et al 2019).

Uma revisão sistemática com metanálise, publicada em 2017, sobre programas de exercícios domiciliares realizados através de plataformas eletrônicas para pacientes com osteoartrite mostrou evidência de alta qualidade sobre o efeitos benéficos na função física (DMP (Diferença de Média Padronizada) 0,41; IC (Intervalo de Confiança) 95% 0,17 a 0,64) e na qualidade de vida (DMP 0,27; IC 95% 0,06 a 0,47). Até que ponto esses resultados são generalizáveis para a população idosa não está claro, já que a média de idade dos indivíduos analisados foi de 56 a 63 anos.

Três das sete intervenções avaliadas ocorreram apenas por meios remotos. Duas delas (Bennell 2017 e Bossen 2013) utilizaram intervenções via internet. Combinar essas intervenções mostrou significância estatística de melhora na função física e qualidade de vida nos tempos de seguimento de 1 a 6 meses. De 9 a 12 meses, a função física também apresentou benefício estatisticamente significativo. O único estudo sobre telemedicina sem contato interpessoal (N (Número de participantes) = 50) não relatou desfechos de função física.

Existem evidências de uma metanálise que a atividade física utilizando vídeo games tem efeito benéfico na saúde física de idosos, particularmente para os mais velhos, que têm depressão ou mobilidade reduzida. Alguns efeitos na saúde social também foram encontrados, e oferecem um meio de socialização, incluindo as gerações mais novas como os netos.

Um ECR pequeno (N = 32) sobre um jogo de videogame (chamado Stepmania) mostrou melhora significativa no grupo intervenção quando comparado ao controle para o escore composto chamado Physiological Profile Assessment (PPA: Avaliação do Perfil Fisiológico) em 8 semanas (F31,1 = 12.706, p = 0,001). Outro estudo mostrou que o grupo com treino de Tai Chi por teleconferência foi efetivo como treino comunitário, e um pouco melhor do que orientações por DVD (Wu et al 2010).

Limitações

Enquanto alguns pacientes terão condições específicas que limitarão o engajamento ao exercício, essa revisão foca em apoiar pacientes que já eram ativos previamente, mas agora estão isolados socialmente devido ao COVID-19.

Uma revisão sistemática relatou algum aumento nos eventos adversos atribuídos ao exercício para idosos frágeis. Além disso, outros estudos também mostraram um pequeno aumento no risco de lesões musculares. Para aqueles que já são frágeis e estão lutando para manter alguma mobilidade, uma revisão sistemática mostrou que exercícios em posição sentada podem ser mais seguros e efetivos. Porém, a maioria dos estudos avaliados nessas revisões incluem algum grau de contato interpessoal, treinamento ou supervisão, e, assim sua transformação em exercícios totalmente remotos não está clara.

Muitos estudos incluídos avaliaram programas que podem não estar amplamente disponíveis. Mas existem fontes online disponíveis criadas especificamente para idosos, por exemplo o Later Life Training e vídeos do youtube (youtube.com) incluindo seu canal Later Life Training.

Conclusão

Idosos com mais de 70 anos estão sendo orientados a manter isolamento social para minimizar os riscos de contrair o COVID-19. Pacientes com sinais de fragilidade e aqueles com sinais de deterioração são particularmente vulneráveis. O isolamento social pode reduzir a mobilidade e levar os pacientes à perda funcional. Ansiedade e depressão também podem piorar a fragilidade. Exercícios e elementos sociais dos programas são, portanto, elementos importantes a serem considerados. Apesar da evidência existente ser limitada, existe alguma evidência que sugere que programas domiciliares e a utilização de tecnologia podem ajudar.

 


Link para o original: https://www.cebm.net/covid-19/maximising-mobility-in-the-older-people-when-isolated-with-covid-19/

Deve ser citado como: Jamie Hartmann-Boyce, Nathan Davies, Rachael Frost, Sophie Park

Termos utilizados para a estratégia de busca

A busca no Pubmed foi realizada em 19 de março de 2020 por termos relacionados a “mobilidade”, “idosos” e “revisão sistemática” combinados com “domicílio” e “isolamento”. A lista de referencias das revisões incluídas e ensaios clínicos relevantes foi triada, com buscas suplementares sendo realizadas para identificar estudos sobre o papel da tecnologia.

Fontes: Todas as fontes de evidências utilizadas nessa revisão estão disponíveis pelos hiperlinks acima.